quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Excelentíssimo 2010

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi Bridge over troubled waters ao vivo e a indispensabilidade dos amigos.

Para eles este hino.
Para que o ano que está a nascer se faça de pontes e de abraços, de pontes que são abraços.

When you're weary, feeling small
When tears are in your eyes,
I will dry them all
I'm on your side
When times get rough
And friends just can't be found

Like a bridge over troubled water
I will lay me down
Like a bridge over troubled water
I will lay me down

When you're down and out
When you're on the street
When evening falls so hard
I will comfort you
I'll take your part
When darkness comes
And pain is all around

Like a bridge over troubled water
I will lay me down
Like a bridge over troubled water
I will lay me down

Sail on silver girl
Sail on by
Your time has come to shine
All your dreams are on their way
See how they shine
When you need a friend
I'm sailing right behind

Like a bridge over troubled water
I will ease your mind
Like a bridge over troubled water
I will ease your mind

Mendelsshon

Antes que o ano termine, homenagem a Mendelsshon numa das suas mais brilhantes composições.
No segundo centenário do seu nascimento e por nos ter mostrado o génio de Bach.

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi um enorme "passo para a humanidade”.

Antes que o ano termine.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Talvez Poema

Para os meus amigos neste fim de ano e início de outro com tudo o que desejarem.
Vivam os amigos!
--
12.
Amigos

Os amigos amparam-nos
os passos
que a vida nos dá

Invadem-nos os dias
como rizomas subterrâneos
que – sabemo-lo bem – brotarão
em flor
no tempo oportuno

Os amigos regam-nos
o sorriso
que a vida nos dá

Escolhem-nos como sua morada
e habitam-nos o silêncio
dos dias sombrios em que a solidão
se torna o espelho
que já não nos reconhece

Os amigos não morrem
somos nós que morremos
na morte deles

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

1969 – 40 anos

Agora que o ano e a década se precipitam para o seu fim deliciemo-nos com algumas das músicas que aqueceram corpos e almas que se atropelavam em garagens e festas entre explosões de palavras e hormonas adolescentes.





quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Que o sonho se cumpra

Feliz Natal para todos!

Música simples, palavras simples...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Poema

Os amigos

Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor

José Tolentino de Mendonça
De Igual Para Igual

Do Silêncio e da Memória

De todas as pérolas guardadas no fundo de nós, o silêncio é, certamente, uma das mais preciosas. Irmão do vazio, da ausência, do não-ser, o silêncio habita-nos no mais íntimo da nossa humana fragilidade. E nós, atentos viajantes deste humano peregrinar, voltamo-nos para dentro e, no silêncio de nós mesmos, buscamos a mais profunda ligação, harmonia, paz. E a luz também. E, nessa luz, que nos habita e transcende, buscamos o Sentido, o Caminho, a Verdade, a Vida. E encontramos, no mais íntimo de nós, no mais profundo esvaziamento de nós, a secreta morada de Deus. Nessa morada repousamos os dias que nos ocupam a vida. Nessa morada encontramo-nos protegidos e amados como no ventre da mãe. A ela regressamos quando o ruído dos dias nos esvazia de nós. Nos alheia de nós. E gostamos. Gostamos de ver nos olhos fechados a luz que nos inunda, nos invade, nos possui. Gostamos de sentir a inefável quietude do silêncio que nos habita. Gostamos do amor que nos liga ao mundo nessa solene musicalidade divina. E re-inventamo-nos. E re-nascemos no sonho do re-encontro, da re-ligação. E, assim renascidos, revigorados, reforçamos a nossa fugaz historicidade. Reconhecemo-nos humanos, limitados, imperfeitos. Em construção. Dignos da luz que se faz no silêncio de nós mesmos. Capazes de amar. E damo-nos conta que todos os mestres viveram o silêncio, amaram em silêncio, amaram o silêncio. Todos os místicos buscaram, no mais íntimo de si mesmos, a luminosa comunhão com a Luz, a Verdade, a Vida. Todos os religiosos desejaram a primordial re-ligação com o Sagrado, o Espírito. Com Deus. E ouvimos o dizer de Sto Agostinho: ”Se Deus não estiver no teu coração, não está em parte alguma”. E compreendemos que o deserto é o silencioso esvaziamento de nós para connosco nos encontrarmos. E olhamos para fora e vemos o outro como igual, habitado da indelével beleza do silêncio que comungamos. E ouvimos o silêncio na plena musicalidade poética da Palavra. E sabemos da força solidária dos braços que se abrem, da dádiva encantada da voz que nos embala, da disponibilidade gratuita do sorriso que se abre, da serena coragem despojada de nós, do sonho que na vida se faz, do caminho, do caminhar, do chegar, do partir. Do amar. Do viver. E sabemos da íntima fraternidade partilhada na mais profunda comunhão, sabemos do encontro nas raízes do que somos, do outro que em nós nos fazemos, de nós que no outro se dá, da festa que no abraço se instala, da ternura, do pão, do vinho. Dos amigos. Dos irmãos. E sabemos que não estamos sós!

Deixamos entrar a memória e vemo-nos no silêncio solene da oração, no silêncio partilhado da refeição, no silêncio apaziguado do sono. Vemo-nos no silêncio majestoso da montanha, no silêncio reservado do retiro, no silêncio habitado do sonho. E sentimos a força do silêncio antigo em cada mergulho na mais íntima memória de nós. E recordamos os amigos. Os que chegaram, os que partiram, os que ficaram. E encontramo-nos no abraço cúmplice da memória que nos une. E sentimo-nos gratos e honrados por termos vivido tudo isto entre mestres e amigos nos nossos verdes anos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Da Inutilidade dos Professores

Não é propósito de “Nós” publicar textos longos. Abrimos a primeira excepção para esta ficção que lemos no “De rerum natura”.

Sem preâmbulo, sem considerações, sem constrangimentos.
Ei-la:

O ano é 2.209 D.C. - ou seja, daqui a duzentos anos - e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:

“Vovô, por que o mundo está acabando?”. A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:

“Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.

“Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?”

O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.”

“Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?”

“Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.”

“E como foi que eles desapareceram, vovô?”

“Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer: «estou pagando e você tem que me ensinar, ou «para quê estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você», ou ainda «meu pai me dá mais de mesada do que você ganha.» Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo gerenciar a relação com o aluno. Os professores eram vítimas da violência física, verbal e moral que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo. Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério. Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas bem sucedidas eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão, sindicalistas... Ah, mas teve um fator chave nessa história toda. Teve uma época longa chamada ditadura, quando os milicos colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram com eles, que foram perseguidos, aposentados, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de educação libertadora que ninguém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro de misericórdia nos professores. Não sei o que foi pior «os milicos» ou os tais dos «subversivos».

“Não conheço essa palavra. O que é um milico, vovô?"

"Era, meu filho, era, não é. Também não existem mais..."

sábado, 5 de dezembro de 2009

1969 - 40 anos

Em 1969 foi On the Threshold of a Dream e To Our Children’s Children’s Children  com Watching and Waiting

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Talvez Poema

11.
Livros

Leio
como quem olha o espelho
em busca de si próprio.

Uns ajudam, outros não.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dia Internacional da Pessoa com Deficiência

A necessidade de um “Dia Internacional” dedicado à pessoa com deficiência impele-nos a um questionamento sobre o sentido do humano a que nos é difícil, ou mesmo, impossível escapar.
O que fizemos da humanidade alimentada em tantas tradições morais, éticas, religiosas, filosóficas e mesmo científicas que nos foram apontando o outro como merecedor de toda a dignidade e atenção, justamente porque sendo outro para mim, eu sou outro para ele e, por isso mesmo, somos idênticos na diferença?

O que fizemos dos prementes apelos dos sábios que atravessaram o tempo e nos acalentaram o destino com as vozes vociferantes contra a exclusão?

O que fizemos dos sonhadores que nos alimentaram o presente com a utopia fundadora de reinos de uma só lei: “Faz aos outros o que queres que te façam a ti”?

O que fizemos dos homens que nos habitaram os dias com seus ideais fundadores da humanidade em que nos quisemos inventar entre o respeito e a liberdade?

Sucumbimos aos fantasmas que nos invadiram as noites e nos comeram a coragem com que aniquilámos a diferença que nos perturbava o espelho?

Desertámos das ruas que transbordavam de ideias e crenças em que se fundavam novos mundos de muitas cores e vazios de fronteiras?

Hipotecámos a terra em troca de um centro narcísico, construído à imagem de um poder narcísico autofágico?

A criação de um “Dia Internacional” não pode deixar de nos inquietar.


Aqui, no Nós, fazemos a apologia da diferença como condição ética do nosso modo humano de ser e o respeito, a solidariedade, a tolerância e a liberdade como esteios fundantes da nossa humanidade.

Como exemplos da diferença com que nos fazemos aqui ficam quatro exemplos (a acrescentar ao dedicado a Bento Amaral) de homens e mulheres que nos fazem acreditar na beleza, na arte, no amor. Na vida que se faz na diferença. No homem que se faz no respeito.

1.



2.



3.

Um deficiente com paralisia cerebral, doutorado em electrónica e computação, criou um software especial que permite que um deficiente que tenha dificuldade em se comunicar se possa fazer entender.

Lançado, esta quinta-feira, no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, o Easy Voice – Atendimento Sem Barreiras vai ficar instalado no serviço de passaportes do Governo Civil de Faro e permitirá a síntese da voz para este tipo de deficientes.

Fonte

4.

sábado, 28 de novembro de 2009

Encontro com... Bento Amaral

O que a vida nos reserva escapa ao nosso entendimento. Não somos deuses, somos homens e, como homens, percorremos os caminhos que somos capazes de descobrir ou inventar. De uma forma ou de outra, escapa-nos o futuro, que desconhecemos mas imaginamos. Como tal, resta-nos viver o presente em tudo o que faz dele o tempo que nos é dado viver. Apenas o presente nos é possível viver. Apenas no presente nos é possível a felicidade. Não viver o que a vida nos possibilita no presente que temos à nossa disposição é um desperdício, é escolher o inacessível de um futuro que poderá nunca acontecer, é trocar o possível pelo desejável, trocar a vida que construímos em cada momento em que nela nos envolvemos, alimentados pelos valores que nos fazem gostar de nós e dos outros, ou melhor, que nos fazem gostar de nós porque nos sentimos bem gostando dos outros, pelo desejo de um sonho que nos encanta e nesse encantamento poderá ofuscar-nos, paralisar-nos e devorar-nos como uma serpente.

Por isso, disse Bento Amaral na minha escola, “deve viver-se o presente em toda a sua plenitude” e “ser feliz agora” “sem esperar pelo amanhã. Por isso também, “preferia voltar a passar pelo que passei”, apesar de ter sido tão doloroso e traumático, simplesmente porque “me tornei melhor pessoa” e “percebi melhor as outras pessoas e o que significa ser feliz”, acrescentando que, antes do acidente, vivia confiado na sua auto-suficiência, contando apenas consigo mesmo. Com o acidente descobriu a sua fragilidade e os outros. Descobriu, enfim, a impossibilidade de ser feliz sozinho.

É espantosa a força, a coragem, a simpatia, o bem-estar que irradia Bento Amaral. E era exactamente essa vontade contagiante de viver que interessava acentuar no encontro com os alunos do ensino secundário, marcados pelo vazio dos modelos telenovelescos. O que nas mensagens hedonistas das telenovelas adolescentes é conseguido sem esforço, numa perversa apologia do ócio e do prazer, é em Bento Amaral promovido como resultado de trabalho, de esforço, de dedicação, de carinho, de envolvimento pessoal na construção da própria vida. Era também isso que importava acentuar a adolescentes em construção.

Não se pode ficar indiferente a tamanho sorriso sentado numa cadeira de rodas, dependente em quase tudo de terceiros. Não no amor. Bento ama e é amado. E esse amor vê-se no brilho do olhar que lhe habita o sorriso no rosto luminoso como apenas os rostos felizes o podem ser. E isso é imperdível, insuspeito, iniludível. E também isso nos importa. Sobretudo quando nos ocupamos com minudências, com insignificâncias que nos gastam os dias e nos afastam de nós e dos outros. E nessas minudências nos vamos esvaziando até nada termos para dar. E quando nada tivermos para dar o que poderemos receber? E quem no-lo dará?

Apenas poderá dar quem não se tiver esvaziado da sua humanidade, da disponibilidade para fazer do outro a razão da sua própria humanidade, da disponibilidade para dar cada dia o que espera receber. Quem se mantiver além do desgaste quotidiano do egocentrismo solipsista no qual o mundo apenas se encontra justificado no eu narcísico que se mira a si mesmo e nesse mirar-se se consome.

Olhando Bento Amaral temos de estar optimistas: a vida é possível, o amor é possível. E a felicidade também. Possíveis, não dadas: é preciso construí-las e cuidá-las. Bem!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Talvez poema

10
Despedida

Da tua poltrona de morte solta-se o grito impotente
no silêncio de dor e coragem com que fizeste tua condição
de mãe

Nasceste comigo no grito de amor e de prece
e cedo teus olhos de âmbar escureceram tristes
com a dor sem remédio
com que de negro vestiste
teu corpo curvado
envelhecido

Escapa-se-te o sonho!
Morres-te!
Restas-te na memória antiga dos sonhos que fizeste.

Desde sempre habitas meus passos andarilhos
da vida inquieta
que em ti nasceu.

Sobras-me na memória do tempo que em ti se fez
Sobras-me inteira no silêncio do arco-íris

Bento Amaral na minha escola

Bento Amaral esteve na minha escola no âmbito de uma actividade denominada "Encontro com". Esta actividade orienta-se para a promoção de "modelos positivos" junto dos alunos que possam, de algum modo, apresentar-se como alternativas aos modelos promovidos pelos media, sobretudo a TV e suas telenovelas.

Bento Amaral - 40 anos, casado, natural do Porto.
Engº Alimentar pela Escola de Biotecnologia da Universidade Católica
No 5º ano do curso estagiou no Instituto de Enologia de Bordéus.

Professor na Universidade Católica de Avaliação Sensorial em pós-graduações e mestrado de Enologia e Markting de Vinhos.

Colabora na Revista Blue Wine.

Chefe de provas do IVDP (Instituto do Vinho do Douro e do Porto), onde é Responsável pela Câmara de Provadores, que atribui as (DOC) Denominações de Origem dos vinhos produzidos na região do Douro.

Desporto

- Praticante de vela ligeira desde os 14 anos
- Vela adaptada desde 2001
- 2004 – Vice campeão mundial
- 2005 – Campeão mundial
- 2008 – Qualificou Portugal para Jogos Parolímpicos de Pequim - 9º

Condecorações

- Ordem do Infante (10 de Junho de 2008).

Falta um pormenor importante: Bento Amaral é tetraplégico há 15 anos, desde que em 1994 bateu com a cabeça na areia da praia quando fazia uma carreirinha mal calculada numa onda.
Falta outro pormenor: é casado desde 2007. Nessa cerimónia tão querida para ele, Bento Amaral abriu o baile com a mulher sentada no seu colo, ambos na cadeira de rodas que usa de manhã à noite.

(Hoje é a notícia, amanhã é a reflexão)

sábado, 14 de novembro de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi Space Oddity de Bowie
Começava a longa vida do "Camaleão"

Poema

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões


As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.

É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas

Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos

As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente. Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.

Daniel Faria

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Do conhecer e do saber

"O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele."

A referência encontrei-a em http://filosofarpreciso.blogspot.com/.
Não é difícil perceber aqui uma das questões que alimenta a reflexão à volta da educação e do papel da escola no mundo marcado por uma tripla revolução, como Gardner afirma na entrevista que a revista Nova Escola traz na sua edição de Outubro: “ a globalização”, “a biológica” e “a digital”.
Qual o papel destinado à escola? Transmitir conhecimentos ou construir saberes? Formar gerações que adquirem conhecimentos que lhes permitirão dominar técnicas com as quais desempenharão trabalhos e funções de uma forma eficaz e eficiente, segundo modelos produtivos desligados das finalidades que lhes estão associadas ou contribuir com os saberes que a escola mobiliza na sua permanente actualização (mesmo com a reconhecida incapacidade pro-activa da escola e de actuar (quase) sempre em reacção) para a construção de saberes que envolvam as gerações que a frequentam na busca de soluções para os problemas que nos afectam como sujeitos de um mundo em inter-relação? A ecola deve formar técnicos, cidadãos ou técnicos-cidadãos?
A sociedade do saber que a escola persegue não implica uma umbilical ligação aos valores que nos fazem homens dignos?
Claro que sim!

Eis um pequeno excerto da entrevista acima referida. Para ler e pensar.

Howard Gardner, que se dedica a estudar a forma como o pensamento se organiza, balançou as bases da Educação ao defender, em 1984, que a inteligência não pode ser medida só pelo raciocínio lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola. Segundo o psicólogo norte-americano, havia outros tipos de inteligência: musical, espacial, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal, naturalista e existencial. A Teoria das Inteligências Múltiplas atraiu a atenção dos professores, o que fez com que ele se aproximasse mais do mundo educacional.

Hoje, Gardner tem um novo foco de pensamento, organizado no que chama de cinco mentes para o futuro, em que a ética se destaca. "Não basta ao homem ser inteligente. Mais do que tudo, é preciso ter caráter", diz, citando o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882). E emenda: "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele".

O livro [Cinco Mentes para o Futuro] aponta também habilidades associadas a virtudes morais.

GARDNER Uma delas envolve o respeito - e é mais fácil explicar a mente respeitosa do que alcançá-la. Ela começa com o reconhecimento de que cada ser humano é único e, por isso, tem crenças e valores diferentes. A questão é o que fazemos com essa conclusão. Nós podemos matar e discriminar os diferentes ou tentar entendê-los e cooperar com eles. Desde que nascem, os humanos percebem se vivem em um ambiente respeitoso. Observam como os pais se relacionam e tratam os filhos, como os mestres interagem com os colegas e com os estudantes e assim por diante. O respeito está na superfície.

Essa última habilidade se relaciona à ética, certo?

GARDNER Sim. No que se refere à ética, é necessário imaginar-se com múltiplos papéis: ser humano, profissional e cidadão do mundo. O que fazemos não afeta uma rua, mas o planeta. Temos de pensar nos nossos direitos, mas também nas responsabilidades. O mais difícil com relação à ética é fazer a coisa certa mesmo quando essa atitude não atende aos nossos interesses. Ao resumir esses dois últimos tipos de mente, eu diria que pessoas que têm atitudes éticas merecem respeito. O problema é que muitas vezes respeitamos alguém só pelo dinheiro ou pela fama. O mundo certamente seria melhor se dirigíssemos nosso respeito às pessoas extremamente éticas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A euforia no portátil

Havia um trabalho em grupo para fazer. Organizados para dar continuidade ao trabalho já desenvolvido fora da escola abrem as mochilas e tiram o portátil.
Estamos numa escola de província. O acesso aos centros de informação é limitado pela distãncia e pelos raros, caros e difíceis transportes. A biblioteca escolar é uma sala com enciclopédias generalistas e pouco profundas mas poucos livros. O acesso à informação tem que fazer-se via internet. Nós sabêmo-lo e os alunos também.
De um momento para o outro há sete portáteis com ligação móvel à internet na sala de aula. Tudo acessível por um clique. E é aqui que começa a euforia e, receio-o, o desencanto. O acesso fácil à informação reforça a transparência das vidas fáceis que os conteúdos mediáticos juvenis definem e estimulam. Reforça, portanto, a dimensão identitária das crianças e adolescentes com o ideal de sucesso dos seus heróis.
Eles não o sabem mas nós sabêmo-lo: o sucesso ou a melhoria do aprender e do ensinar e a consequente melhor ou pior preparação para a escola e para a vida não depende das TIC, depende do uso inteligente do trabalho intelectual que se desenvolve no processo de apropriação da informação, venha ela por que via vier.
Não é a informação que nos forma, que nos faz o que somos. É a apropriação inteligente da informação. De nada serviria a informação se não soubéssemos o que fazer com ela, se dela não fizéssemos um exercício pessoal, reflectido, articulado, organizado, disciplinado, coerente, se dela não construíssemos um texto, quer dizer, um discurso que torne entendível o mundo que construímos. Um discurso pessoal, escrito, partilhável na leitura e interpretação que despoleta a sua inteligibilidade e comunicabilidade.
É importante não esquecer que apenas nos fazemos uns com os outros na comunicação e na linguagem com a qual e pela qual nos identificamos e somos. A promoção dessa dimensão comunicacional, enquanto actividade humana por excelência, apresenta-se, então, como um dever educativo. Pedagógico também. Assume, por conseguinte, um carácter ético.
Nestas circunstâncias, se não promovermos a comunicação interpessoal como processo de humanização e o texto escrito como exercício maior de intelecção do real, continuaremos ao lado do progresso, ao lado do sucesso, ao lado daquilo que nos garante o desenvolvimento pessoal, social, intelectual, mental de cada um e de todos. Só esse é durável.
O portátil é uma ferramenta eufórica. É fácil de usar e dá ao utilizador a sensação divinal de omnisciência e omnipotência: com um pequeno toque poderá saber tudo sem esforço. Este poder torna-o eufórico. E o caso não é para menos.
O livro também é uma ferramenta. Mas não é fácil, nem transparente, nem absoluto no saber que possibilita. São precisos muitos livros, muito esforço, muito estudo para saber.
Não é difícil perceber a euforia colada às TIC e descolada dos livros entre as crianças e adolescentes.
Mas, sabêmo-lo bem, o sucesso não está nas TIC, nem nos livros. O sucesso está no uso que deles fizermos. Aí se encontrará também o encanto ou o desencanto.
Aí se encontra também o exercício do dever pedagógico e educativo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Talvez Poema

9. 
Jardim de Outono

Há uma flor
no jardim de Outono
ardendo no fogo nocturno
dos sonhos
dos homens
que guardam despertos
o tempo sem mácula
das roseiras em flor

Amam
Crêem
Vivem

Perseguem sua sombra
e vêem-se inteiros
na solidão da flor
perdendo as pétalas
no jardim de Outono

Estão sós

Aguardam o Inverno
em que as camélias florirão

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Música das músicas

Há 280 anos foi o encantamento na estreia por Bach em Leipzig,
Há 180 anos foi o re-encantammento na re-estreia por Mendelssohn em Berlim
Hoje somos nós a encantar-nos com a "música das músicas"

domingo, 25 de outubro de 2009

O Factor Peter Pan na educação

Este texto tem por base um comentário feito para o Profavaliação (http://www.profblog.org/). Na discussão que se desenvolveu a partir do post de Ramiro Marques sobre ”o peso do factor X”, factor correspondendo à influência que a leitura de “Uma Aventura”, que acompanhou muitos dos professores com menos de 35 anos, poderá ter na aceitação da ministra da educação Isabel Alçada por parte dos professores, Wegie, a certa altura coloca a seguinte questão: “ A Geração X também é conhecida por Geração Peter Pan. Poderemos falar então de um factor Peter Pan?” O que se segue é a minha resposta a essa questão.

Penso que sim, que há um factor (ou complexo) Peter Pan na educação e que se prende com dois ou três aspectos que me parecem acompanhar a actividade docente:

1. Há como que uma interrupção do devir temporal no facto de todos os anos trabalharmos com alunos que têm sempre 5, 7, 12, 15, 20, 25 anos. Mesmo sendo outros, a idade é a mesma. Claro que, quando nos aparecem mais tarde como colegas ou os encontramos noutras funções, descobrimos que estão mais velhos e nós, enfim, com sobressalto, acabamos por reconhecer que "já passaram uns anitos". Velhos é que não!

2. Temos um medo terrífico da nossa sombra que, evidentemente, procuramos encerrar num qualquer sítio para que não nos atormente. São as dúvidas, a imponderabilidade do que nos escapa ou, simplesmente, questiona as certezas que nos iluminam. Não faltam exemplos [a ilustrar este medo de duvidar, este medo de pôr permanentemente em dúvida as certezas em que fundamos os saberes que organizam o nosso modo de ser, pensar, dizer e fazer. Este medo, enfim, de que a sombra nos anteceda e nos escape].

3. Não desejaremos viver eternamente, como professores, na "Terra do Nunca", onde o "Capitão Gancho" não possa de modo algum atingir-nos? E isso não é um desejo que pretende perpetuar um estado de graça que nos permitisse continuarmos a voar? Que nos permitisse continuar a sonhar e a viver no sonho?

Todos sabemos que não crescemos matando Peter Pan.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi Sua Estupidez de Erasmo e Roberto Carlos.
O calor tropical, o sotaque tropical, o sabor tropical
em duas das suas vozes: Roberto Carlos e Gal Costa

Poema

Juventude

Sim, eu conheço, eu amo ainda
esse rumor abrindo, luz molhada,
rosa branca. Não, não é solidão,
nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
isento de peso e crueldade.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Saramago e a desmitificação

Estive sem computador durante uma semana e acesso incipiente à Internet. Esta impossibilidade tecnológica justifica o meu silêncio a propósito de uma das mais interessantes iniciativas promovidas pela CM de Penafiel. A Escritaria homenageou, nesta segunda edição, José Saramago. Entre colóquios, teatro, cinema e animação de rua desenvolveu-se, entre os dias 15 e 18 de Outubro, uma actividade cultural, pouco habitual nas cidades portuguesas e muito menos em cidades pequenas de província, que culminou com o lançamento mundial de Caim, o mais recente romance de Saramago, e com as mais de duas horas e meia de autógrafos aos vários livros que cada pessoa lhe apresentou no fim da sessão de lançamento. E eram mais de três centenas.

Não é meu propósito falar de Caim. Não é igualmente meu propósito participar na polémica que se está a instalar com a igreja católica. O meu propósito prende-se com um episódio passado na tarde de domingo (18.10.09), que me parece merecer uma reflexão. Passo a contar.

Na sequência de intervenções apologéticas da obra e da pessoa de Saramago pelos intervenientes dessa tarde, o autor homenageado agradeceu, introduziu alguma água na fervura apologética e a dado momento contou o seguinte: “Vou dizer-lhes uma coisa de que a Pilar não vai gostar. Há já algum tempo fomos a Itália. Eu fui dar uma conferência à Universidade de Pádua e, durante os cumprimentos, referindo-se à minha mulher [que na véspera tinha apelidado como “a minha meia laranja”] um professor diz: “Ah! A mítica Pilar”. Ela não gosta mas não há nada a fazer. Estar casado com um mito é qualquer coisa de extraordinário. Não há nada a fazer. Ela é um mito e eu gosto disso”. Mais adiante, depois de Pilar o ter interrompido para falar da Fundação José Saramago, exclamou: “Vejam a sorte: é um mito que fala”.

É aqui que se coloca a minha reflexão: o mito e a sua desmitificação. É consensual a ideia segundo a qual a obra de Saramago se ocupa da desmitificação dos mitos comuns do ocidente, seja qual for a sua natureza. (Essa foi, de resto, a ideia defendida numa das intervenções da tarde de sábado). Ora, se analisarmos o episódio de Pádua não deixa de ser interessante verificar quanto Saramago valoriza os mitos. Desde que possa viver com eles e que falem. É aqui que nasce o equívoco.

Saramago espanta-se com a sorte de o “seu” mito falar. Conhece certamente a avisada sentença de Pessoa: “Um mito é um nada que é tudo”, conhece certamente os estudos de Cassirer, de Barthes, de Strauss, entre outros, e a dimensão cosmogónica que lhe é atribuída. Conhece certamente a função simbólica do mito e, por isso, a sua função dinamizadora da integridade pessoal e socio-cuultural. Ora, tudo isto apenas é possível porque o mito fala, o mito diz, de geração em geração, o que é fundamental, o que é vital para a comunidade que o reconhece. Para a comunidade e não para o indivíduo. Não há mitos individuais. Os mitos são colectivos porque dão sentido ao cosmos, ao mundo, à vida. Também de Saramago. Mesmo que o mito se chame Pilar e ele goste.

Barthes mostrou bem a importância dos mitos na sociedade de consumo e na cultura de massas (e Mitologias é de 1957 !...). Mostrou igualmente quanto dessa importância resulta daquilo que “está perfeitamente de acordo com a sua etimologia: o mito é uma fala” (BARTHES, R (1978) Mitologias, Lisboa, Ed 70: 181). E porque é uma fala “é um sistema de comunicação” (ibid). E porque é um sistema de comunicação diz o que dá sentido a uma época,  uma cultura, um modo de ser, de dizer e de fazer. E é este processo identitário que nos fez ao longo do nosso humano caminhar. Lado a lado com o mais elevado exercício racional, lado a lado com a filosofia e a ciência. Foi assim com Platão, foi assim com Nietzsche, foi assim com Einstein. Sem os mitos não teríamos certamente saído da caverna. Apenas com eles não teríamos certamente chegado à lua. É, pois, estranho o empenho desmitificador de Saramago. É estranho o orgulho embevecido pelo mito com que vive. Sem reservas. É estranho querer desmitificar os mitos recorrendo a processos em si mesmos efabuladores e mitificadores na promoção identitária com as personagens romanescas. É estranho inventar mundos habitados por blimundas e baltazares e querer prendê-los ao grilhão da materialidade física. É estranho. É estranho ele não estranhar.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poema

Já fui rico, fui amado,
entre os meus iguais prezado:
mas, pelos anos curvado,
pelo tempo devorado,
hoje sou mais desprezado
do que o lixo abandonado,
comendo pão mendigado,
dormindo em leito emprestado,
com o rosto desgraçado
por amor nenhum tocado!

Nesta miséria me afundo;
nem em mais nada me afundo:
minha casa é só o mundo,
que percorro, vagabundo.
Já fui feliz e fecundo,
fácil, faceto, facundo,
até no jogo jocundo,
primeiro em tudo no mundo,
hoje nem mesmo segundo:
apenas um vagabundo.

Hugo, primaz de Orléans (sec. XI-XII)

Talvez Poema

8.
Do velho que estende a mão à indiferença apressada
que agita os passos de quem passa
e todos os dias habita a esquina da rua
onde gente sem rosto faz compras apressadas
nada sei além de que usa óculos escuros mas não é cego,
usa bengala mas não coxeia,
traz banco desdobrável mas não se senta.

É velho
estende a mão à indiferença dos passos apressados,
guarda as lágrimas na escuridão dos óculos
e deposita-as inteiras
no quarto onde adormece a solidão dos dias
que a sombra há-de abandonar
e a esquina desabitar.

Faltará então à indiferença
dos passos apressados a mão estendida.

E toda a gente notará.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

1969 - 40 anos

1969 – 40 anos

Há 40 anos foi “A Formiga Bossa Nova”




Hoje é "Abandono" (1962) e a homenagem com palavras de poeta (David Mourão-Ferreira) e Voz do Fado Português

domingo, 4 de outubro de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi "Mujeres argentinas" com "Alfonsina y el mar"
Hoje é a homenagem a "la negra"
no dia da sua morte.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Talvez poema

Como me deslumbra o tempo que a lareira consome
no vagar afectado do sonho!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi o amor a alimentar a esperança na voz de poetas e cantores

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Propdêutica do desencanto

Estava marcado um “exercício escrito” para hoje (9 de Fev 2009). Como sempre houve um período inicial de esclarecimento de dúvidas. Prolongou-se até ao fim da aula. Todos os alunos reconheceram que assim deviam ser as aulas: momentos de diálogo, de discussão, de comunicação em busca do esclarecimento das dúvidas que apenas o estudo traz. Razão tinha João Santos quando titulou o seu livro, escrito com João de Sousa Monteiro, Se não sabe porque é que pergunta?.
Uma vez mais fiz ver da importância do estudo para a construção pessoal e construção do saber pessoal. Reconheceram-no mas... exigia mais estudo e isso é que é difícil.
Um dos grandes problemas (a meu ver) de quem estuda e que condiciona os resultados académicos e o desenvolvimento pessoal das aprendizagens é a disciplina do tempo. São tantas as solicitações, todas elas mais atraentes (porque menos exigentes) do que o estudar que, senão houver um tempo reconhecido pelo próprio estudante como necessário à preparação diária dos temas, facilmente o estudo ficará atirado para o folhear das páginas do livro ou para a construção de “cábulas” na véspera dos momentos de avaliação. E é o desastre!
Claro que há a linguagem e a correspondente estimulação neuropsíquica desde mesmo o período pré-natal. Nessa estimulação se joga o desenvolvimento mental, intelectual, motor, pessoal, psicológico, social. Numa palavra: não se nasce crescido!
Mas o que fazer com jovens estudantes nascidos e criados em meios que desdenham de quem sabe mas não tem, que desdenham da escola, do esforço, do dever? O que fazer com alunos cujos pais e encarregados de educação não vão além da escolaridade obrigatória, têm profissões de baixo nível de exigência intelectual, que, também eles, desdenham da escola e dos professores, do saber e do dever e elegem as personagens TV como modelos de um mundo fantástico, fantasiado, em linha paralela ao real? (Tão paralelo que, ao mesmo tempo que se reconhece, também é impossível encontrá-lo, como duas linhas paralelas seguindo lado a lado).
Há também a TV como linguagem, como transparência em confronto com a opacidade da linguagem natural. (A este propósito ver de José Alberto Damas “Opacidade e Transparência no Dizer Educativo”, publicado na revista Itinerários de Filosofia da Educação, nº 3, 1º semestre de 2006, Porto, FLUP).
E há ainda a falta de um projecto educativo coerente, assente em conhecimentos actuais da realiade sócio-económico-cultural das populações juvenis. A falta de um projecto educativo coerente para o país, adequado às necessidades e às convicções das gerações mais velhas e com dimensão mobilizadora para as gerações mais novas conduz a uma permanente produção e reformulação legislativa incapaz de responder à dinâmica sócio-cultural porque está sempre atrasada. É sempre reactiva e incapaz de mobilizar os sujeitos da educação na escola: os professores, os alunos, os auxiliares e funcionários, os pais e encarregados da educação.
Como poderão mobilizar-se os sujeitos da educação se vivem na convicção de que a seguir virá um novo regulamento, uma nova lei, um novo decreto, um novo despacho, circular, esclarecimento ao despacho, ofício da DRE, da DGRE, da DGRHE, etc, etc, que dará novas indicações, que exigirá novos planos, novos comportamentos?...
É estranha a capacidade de produção regulamentar do ME!
Há aqui qualquer coisa de errado. Há aqui qualquer coisa que tolda o discernimento dos inquilinos da 5 de Outubro e da 24 de Julho. Porque das duas uma: ou o estado tem uma ideia para a educação ou não tem. Se tem e a avassaladora produção regulamentar está de acordo com ela, então só podemos esperar a desgraça. Com efeito, é manifestamente impossível cumprir o desígnio de saber ser, saber estar, saber fazer e saber pensar de que se fazem as sociedades dinâmicas, activas e cultas sem que os sujeitos educativos tenham tempo e espaço para se organizarem pessoal, mental, social e intelectualmente. É que, como os movimentos e teorias organizacionais pós-burocracia mostraram, quando tudo se pretende controlar e regulamentar perde-se a capacidade de responder à mudança que caracteriza as sociedades desenvolvidas e/ou em vias de desenvolvimento, perde-se capacidade de intervenção imprescindível para a sustentabilidade da democracia, pedem-se cidadãos e ganham-se indivíduos desmotivados, servis e conflituosos: servis até ao momento em que tomem consciência da sua própria degradação humana.
Nessa altura, tornar-se-ão ferozes promotores do conflito, sem regras nem projecto. Nessa altura, o estado lançará mão do aparelho repressivo. Demasiado tarde. Todos os sabemos. E, contudo, insiste-se em construir a casa da educação preocupados com o telhado e, nalguns casos, preocupados sobretudo e/ou apenas com a pintura, com o que se vê, com o que aparece, com o aparente. E, quando a casa cair ou abrir brechas de difícil recuperação lamentamos o descuido com o terreno, com os alicerces, as bases, a estrutura, o desenvolvimento equilibrado e sustentado. Então, uns levantarão o dedo acusador, outros assobiarão para o lado e a história rir-se-á da estulta obsessão pelos resultados sem ter sido valorizada e cuidada a formação de mestres e aprendizes. E lamentar-se-á o tempo perdido. E responsabilizar-se-á a incompetência, a incapacidade e a inabilidade dos mestres. E cairemos no vazio.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Chegou a velha e zás, comeu-a

Hoje, o dia após eleições, apetecia-me re-acentuar o escolher como condição ética essencial do ser homem. E apetecia-me colori-la com a polissemia metafórica do poema. Assaltou-me, então, a memória a limpidez de um poema de Mário Henrique Leiria que me segue os passos como sombra do meu andar.

RIFÃO QUOTIDIANO
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia.

Chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a.

É o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

E veio-me à memória uma das canções que nos embalou os sonhos com que alimentámos o presente. Para que a memória não seque e o sonho não se apague!

sábado, 26 de setembro de 2009

Esquerda e Direita com "G comme Gauche" de Deleuze

Não é propriamente um tema que me apaixone mas, em vésperas de eleições, pareceu-me interessante recorrer a um filósofo francês, lido e respeitado mesmo por Alan Sokal e Jean Bricmont, os autores de Imposturas Intelectuais, onde reduziam as ciências humanas a um conjunto de imposturas sem nexo e sem fundamento. Do barulho que esse livro provocou um pouco por todo o mundo (em Portugal passámos ao lado...) não vem a propósito. Mas do que G. Deleuze pensa sobre o que distingue esquerda e direita parece-me muito importante. Especialmente numa altura em que os traços identificadores da prática política parecem ser cada vez menos dicotómicos e mais embrulhados num novelo indistinto. Especialmente para aqueles que já não sabem se são de esquerda ou de direita. (O centro parece-me o apeadeiro onde se pára à espera do próximo comboio, que vai para a esquerda ou para a direita. Claro, claro,... pode avariar e ficar ali parado... Mas é um comboio avariado!... Até que outro o venha substituir e vá para a esquerda ou para a direita. Entretanto, o apeadeiro vai enchendo, enchendo, os passageiros começam a ficar incomodados, depois, indispostos, depois, impacientes, depois, protestam, depois, bom, depois, quando o comboio chegar, uns entrarão no 1º que chegar, apenas para saírem dali e descerão no próximo apeadeiro à espera do próximo comboio, outros esperarão por aquele que melhor satisfizer o seu desencanto e vão para a direita ou para a esquerda).

Li ou ouvi, não sei bem (ou não terei lido nem ouvido e simplesmente sou eu que penso tê-lo lido ou ouvido?! Para o caso o importante é que) o que essencialmente distingue a esquerda da direita é o inconformismo. A esquerda é inconformista, a direita conformista, a esquerda é inovadora, a direita conservadora. Mas aqui surge um problema: a maioria é sempre conservadora, apenas a minoria é revolucionária, inovadora. A maioria cuida sempre de nutrir-se e, para isso, vai gerindo a situação, vai se conservando, vai criando condições de estabilidade, quer dizer, vai criando condições para que a mudança não vá além da conservação da estabilidade. A maioria abomina a mudança, a maioria conserva a estabilidade.
Ora, se a esquerda é inconformista e a maioria conformista e conservadora... Pois!...

Descansem os que se reconhecem de esquerda: nenhum organismo ou organização consegue viver na inovação permanente, na desestruturação permanente, no caos sem nexo... Descansem os que se reconhecem de direita: nenhum organismo ou organização consegue viver sem inovação... Descansem os centristas: os comboios continuarão a passar em horário mais ou menos certo (há apenas uns pequenos ajustamentos...).


Para melhor esclarecimento fiquem com Deleuze, de viva voz.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Poema

As mãos

Como são belas as mãos
tão meigas sobre o regaço,
felizes como o abraço
fraterno de dois irmãos.

As tuas mãos são assim,
duas aves à espera
dos dias da Primavera
p'ra voarem até mim.

Voam ledas, livremente,
tão brancas, ágeis e leves,
mas tão frágeis e tão breves
em seu voo adolescente!

E pousam devagarinho,
como quem não quer pousar;
hesitam deixam-se estar,
e nas minhas fazem ninho.

António José Queirós

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Do medo de errar

O ponto de partida é este post de Grazza no blog Arroios (http://rendarroios.blogspot.com)

"A Liberdade.
- Há quem não queira ser livre!

O seu a seu dono: a frase, foi uma constatação desanimada de Pedro Lomba, na RTP2, a propósito de uma sondagem que dava 75% de respostas a favor do voto obrigatório.

Há frases como tiros. E se este for no povo também um mecanismo a considerar, que explique o fascínio episódico das sociedades para formatos tirânicos de organização política que legitima as ditaduras? É como se no fundo, um medo maior de outra coisa, a Liberdade, não sei se a sua se a dos outros, mas tanto faz agora, se sobrepusesse a um tipo de medo reverencial ao ditador, tido normalmente como um salvador de pátrias.

Mas esses, serão sempre medos e coisas de berço mal tratadas, porque é isso que leva a que haja tanto sacripanta coberto pela legitimação do voto, sempre de botas bem lambidas".

Do ditador como um “buraco negro” e a sua relação com a diferença já aqui falei.
E o erro? E a verdade? E a liberdade? E o medo de escolher e de errar?

Ser livre significa ter a possibilidade de escolher. Não importa o quê, não importa quem. Importa sim haver possibilidades e poder escolher. É que podermos escolher mas não haver o quê, ou haver o quê escolher e não poder fazê-lo inviabiliza o exercício determinante da eticidade do agir: a liberdade. Repare-se: “exercício determinante”. A liberdade é a condição da moralidade da acção, como se o princípio que nos eleva da “animalidade” para a “humanidade” (Kant) se impusesse como condição sem a qual toda a actividade humana perderia sentido. Somos homens justamente porque somos imperfeitos e livres. Dito de outro modo: apenas o exercício livre de escolha faz de nós homens. Portanto, ser homem é ser livre, é poder escolher de entre as possibilidades que tiver ao seu dispor ou for capaz de inventar.

Numa outra dimensão, razão tinha Sartre quando escreveu que “o homem está condenado a ser livre”. Apenas no exercício da liberdade o homem afirma a sua humanidade. E neste exercício se confronta com a sua fragilidade e temor. É frágil porque incapaz de tudo poder ou saber, temeroso porque incapaz de conhecer todas as possibilidades sobre as quais exerce a sua escolha. À maneira kierkegardiana, a impossibilidade de conhecer a infinidade de todas as possibilidades leva-nos sempre à impossível certeza de termos feito a melhor escolha. Como se no momento de escolher qual o caminho a seguir nos confrontássemos com a absoluta certeza de que podemos escolher o caminho errado, sem, contudo, podermos deixar de escolher. Simplesmente porque não sabemos se esse é o caminho certo ou errado. Claro que se soubéssemos qual era o caminho certo nunca escolheríamos o errado. Mas não o sabemos. E, por isso, estamos sempre sujeitos ao erro. Reafirmo: erramos porque somos obrigados a escolher no exercício livre da nossa capacidade e não conhecemos todas as possibilidades. Consequentemente, qualquer escolha certa resulta de uma escolha que, num determinado momento se apoiou nas melhores possibilidades, ou, se quisermos, recorreu aos melhores factores, aos melhores indícios para aceder à escolha certa, à escolha que melhor correspondia ao que sabíamos. Que melhor correspondia à verdade. (Do problema da verdade havemos de falar noutra ocasião).
E o erro? O erro resulta da escolha que num determinado momento fizemos recorrendo aos factores, aos indícios que, embora nos parecessem os melhores, não o eram. E é aqui que se coloca o problema que atormenta aqueles que têm um pavor desumano pela possibilidade de errar. Receiam tanto o erro que, para não terem que escolher, afirmam a impossibilidade de alternativa, de outros caminhos, de outros saberes. Resta-lhes, então, como dizia Sousa Monteiro há muitos anos, “pensar pela garganta alheia”, repetir o que outros pensam como superação da sua própria incapacidade de pensar, da sua própria incapacidade de escolher a possibilidade de errar.
É sempre mais confortável a certeza do que a dúvida. Quem escolhe, quem usa a sua capacidade de escolher arrisca a possibilidade do erro e nunca se livra da angústia de nunca ter a certeza de ter escolhido bem.
Resta-lhe, pois, assumir a sua essencial natureza frágil e buscar as melhores razões para escolher o melhor. E disso fazer a sua humanidade.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi "Breath" e o Nobel de Becket

sábado, 19 de setembro de 2009

Talvez poema

Nós
Somos a voz
que nasce do silêncio primordial
metamorfose do tempo
da palavra
do caldo cósmico
de que nos fazemos

Nós
que viajamos
que chegamos
que partimos
que andamos
de cá para lá
de lá para cá
ao deus dará
que pensamos
que fugimos de

Nós
que dormimos
que acordamos
que fingimos
que dormimos
quando acordamos
(e o contrário também)
que duvidamos que pensamos
quando pensamos que duvidamos
que falamos de

Nós
que dizemos
que nos fazemos
uns com os outros
aqui e agora
olhando o futuro
que habita a memória de

Nós
que acreditamos
que amamos
que magoamos
que gritamos
que silenciamos
o outro que somos

Nós
que calamos a tristeza
no silêncio das lágrimas
que nos regam
a alma
o olhar
a sombra
que nos empurra os passos
peregrinos de

Nós
que somos
nós da rede de babel
comunidade
gesto
palavra
frutos maduros do tempo
que havemos de colher
que havemos de comer
uns com os outros
falantes
caminhantes
que havemos de dizer
o sonho
que habita em

Nós
que somos homens

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O ano do director

Chegou o ano dos directores das escolas. O ano em que irão prestar contas do que fizeram para e pela educação, do que fizeram para e pela escola pública, do que, enfim, fizeram para e pela promoção daqueles que são a razão de ser da escola – os professores e os alunos. E muito terão certamente que dizer.

Já aqui o disse: o problema da direcção e organização da escola não é a designação do cargo, é quem o desempenha. É verdade que “o hábito faz o monge” e que a investigação de “A Prisão de Stanford” mostra à saciedade que a representação de determinados papeis, assumidos com a dedicação incondicional da irracionalidade, vazia, portanto, de bom senso, ponderação e respeito conduz a comportamentos que seriam impensáveis pelos próprios actores, agentes de acções guiados pela afrodisia do poder ou por qualquer outra consciente ou inconsciente razão. Contudo, continuo a pensar que o presidente do conselho directivo ou executivo, dotado de bom senso, promotor do respeito, estimulador de consenso, mobilizador de vontades, catalizador de saberes, que preferia a partilha à concentração, a comunicação à transmissão, a negociação ao constrangimento, que reconhecia a educação como um processo dedicado e delicado, que é preciso promover e valorizar naqueles e por aqueles que ensinam e que aprendem num determinado sítio e tempo, simultaneamente comum e diverso, que era líder da comunidade escolar e não apenas de uma equipa, ou nem isso, que comandava muito e mandava pouco, que não mandava recados por assessores ou “vozes do dono”, que utilizava os conselhos da escola (CP, CT, AE, As Esc...) como momentos privilegiados de mobilização e como órgãos dinâmicos da permanente actualização e mudança sem as quais qualquer organização estará condenada a uma autofagia sem remédio, (especialmente a escola permanentemente desafiada por outras fontes e centros de saber, muito mais interessantes aos olhos das crianças e adolescentes), que exercia o poder para ouvir bem e decidir em benefício do ensinar e do aprender, mais do que de quem ensina e de quem aprende (especialmente se eram poucos e os mesmos os beneficiados), continuo a pensar, dizia, que o presidente, nestas condições, dificilmente deixará de ser um bom director, mesmo com os constrangimentos do ministério e das suas extensões, institucionais e humanas. Tem que o ser em nome da dignidade que ainda nos resta.

Sei bem a pergunta que ocupa o cérebro esquerdo dos que chegaram até aqui: “e quantos presidentes eram assim?!” Pois... Alguns. Mais do que o que o nosso pessimismo e cepticismo admitem e muito menos do que os que desejamos e necessitamos. (O cérebro direito, intuitivo, já havia respondido: poucos, muito poucos).

O ano está a começar e as expectativas são elevadíssimas.
Seremos capazes de suportar a frustração?

terça-feira, 15 de setembro de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi o amor, a euforia, a ressaca, a Sorbonne, a rue du Bac e as vozes que nos alimentaram o sonho.






segunda-feira, 24 de agosto de 2009

1969 - 40 anos

... e "the partisan". E o sonho a alimentar-se da memória.

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi "songs from a room" e "bird on the wire"...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi "Pedra Filosofal" no Zip Zip e a descoberta de outra televisão. E o sonho a comandar a vida. Mas eles não sabiam. Mas eles não sabem.

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi "trova do vento que passa" e alguém a dizer não.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi o 40º aniversário de José Afonso eo "Contos velhos, rumos novos" e "A Cidade". E o sonho a alimentar-se.

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi o luto académico e uma das mais importantes manifestações de luta académica pela democratização e qualidade do ensino universitário. E faltavam 5 anos.

domingo, 16 de agosto de 2009

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi Woodstock e uma das suas mais brilhantes interpretações: Joe Cocker, "with a little help from my friends", de Lennon-Mcartney

1969 - 40 anos

Há 40 anos foi um dos mais originais concertos de pop-rock: "The toproof concert", dos Beatles


Talvez poema

Estou convencido que a arte diz na forma e na cor
O que os poetas dizem na metáfora
Os cientistas dizem na teoria
Os filósofos dizem no argumento

Todos buscam o que somos
E dizem-no nas ferramentas que melhor lhes servem

Quando os fantasmas nos assombram os dias
E acordam as noites em gritos desesperados
São os artistas da palavra e da cor os nossos exorcistas

Deo gratias

Música sublime

Ontem fui a um funeral. Mais do que uma celebração da morte é, desde que o hominídeo começou a proteger e a alimentar os seus mortos, um ritual de passagem. Claro que se nos põe o problema da imortalidade. Como sempre se nos pôs: o que acontece quando se morre? A imortalidade é apenas a imortalidade da memória? Haverá razões para acreditar ou confiar na imortalidade da alma? Mas para isso é preciso admitir a existência da alma. E a alma existe? A dicotomia alma/corpo, que alimentou (e alimenta) uma boa parte da nossa cultura ocidental (e que Damásio, erradamente, disse ser o "erro de Descartes") tem muitas pontas por atar. Mas somos apenas corpo, cérebro? Estarão erradas todas as culturas, que se desenvolveram ao lado da cientificidade ocidental, erradas? Apenas a realidade demonstrada cientificamente é verdadeira? Mas, sabemo-lo muito bem hoje, o conheciemnto científico é uma construção humana, portanto, frágil, imperfeita, duvidosa, reformulável, refutável. Podemos confiar na ciência que nos diz que a alma não existe porque não há nada no cérebro que o mostre? Não aconteceu o mesmo com os diferentes passos da ciência que refutavam os passos anteriores? Podemos afirmar com segurança que o que vemos é o que vemos? Poderemos afirmar que a vida humana se baliza entre o nascer e o morrer? Poderemos recusar saberes que apontam para vivências anteriores ao nascimento próprio, simplesmente porque não há provas científicas, isto é, porque não foi experimentalmente verificado ou teoricamente demonstrado? Poderemos?
Tantas perguntas! Tão poucas respostas!

Seja como for, fiquemos com o génio humano numa das suas melhores criações: Mozart, Requiem.

sábado, 15 de agosto de 2009

Dez mandamentos do comunista liberal

Slavoj Zizek (há uns acentos sobre os zz estranhos ao meu teclado) cita de Olivier Malnuit ("Porquoi les géants du business se prennent-ils pour Jésus?") os dez mandamentos daqueles que designa por "comunistas liberais" (quem são? quem são?).

1. Fornece tudo grátis (acesso livre, ausência de cpyright...)e cobra apenas os serviços adicionais, o que te fará ainda mais rico.
2. Transforma o mundo, não te limites a vender coisas: a revolução global, uma transformação da sociedade fará com que as coisas melhorem.
3. Tem a preocupação em compartilhar e toma consciência das rsponsabilidades sociais.
4. Sê criativo: centra-te na concepção, nas novas tecnologias e nas ciências.
5. Diz tudo: não devem existir segredos. Assume e pratica o culto da transparência, os fluxos livres de informação, toda a humanidade deve colaborar e ineragir.
6. Não trabalhes fixando um horário rígido das nove às cinco. Tudo o que tens que fazer é estabelecer é canais de comunicação inteligentes, dinâmicos e flexíveis.
7. Volta aos estudos e aposta na formação permanente.
8. Age como uma enzima: não trabalhes só para o mercado, mas promove novas formas de colaboração social.
9. Morre pobre: devolve as tuas riquezas àqueles que delas necessitam, uma vez que tens mais do que alguma vez poderás gastar.
10. Defende o Estado: pratica parcerias entre as empresas e o Estado.

Poema

Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a húmida areia.
A fugitiva hora, reevoquei-a,
— Tão rediviva! nos meus olhos baços...

Olhos turvos de lágrimas contidas.
— Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes
Ao ponto das primeiras despedidas?

Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...

Toda essa extensa pista — para quê?
Se há-de vir apagar-vos a maré,
Como as do novo rasto que começa...

Camilo Pessanha

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Aprendizagem e memória

A entrevista é já antiga mas vale sempre a pena recordar que ensinar e aprender exigem esforço, disciplina, dedicação e, claro, a estimulação para ir sempre além dos saberes a que se chegou. Exige portanto a disponibilidade de quem ensina e de quem aprende para questionar, para pôr em causa o que já se sabe. Como esta elementar douta ignorância não é natural em nós mas é fundamental para o crescimento pessoal e interpessoal impõe-se-nos o rigor no que ensinamos e a exigência nos que estimulamos a aprender. Para bem de todos. Dos que aspiram a grandes voos académicos, dos que se contentariam com o ler e o contar e dos que nem isso.

Reflexões sobre aprendizagem e memória
Duma entrevista com o Prof. Alexandre Castro Caldas (1-Abril-2006).

O cérebro vai abrindo, desde que nasce, janelas de oportunidade para aprender. Ele está preparado para absorver determinada informação em determinada etapa, e assim sucessivamente. Isto passa-se ao longo de toda a vida. O cérebro vai adquirindo competências até à velhice. Mais lentamente, mas vai. O envelhecimento é uma mudança que torna as pessoas diferentes, em que se perdem capacidades mas em que podem desenvolver-se outras. O cérebro está sempre a aprender.
Em Portugal a aprendizagem é um 'happening'. Se a criança não aprende, não faz mal; passa à mesma. Mas convém sublinhar que estas falhas são irreversíveis.

(entrevistadora) É assim da opinião que deve existir um determinado nível de exigência no ensino?

Acho indispensável haver exigência e existem capacidades e práticas de ensino fundamentais. A memorização, por exemplo, é uma delas. O treino da memória cria matrizes, como se fossem moldes, que tornamos a utilizar em situações futuras. Aprender a decorar os rios vai possibilitar-lhe decorar as artérias, se for para medicina. Que façam teatro, por exemplo, possibilita-lhes que sejam capazes de manter um discurso coerente. Quem está a decorar um discurso está a fixar a lógica de entrosamento de um discurso que lhe será útiul futuramente. Está a criar uma lógica de entrosamento de ieias. Se eu não criar este sistema de suporte, depois vou ter dificuldades futuras noutras apreensões.

sábado, 8 de agosto de 2009

Poema

Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em enxame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a


Daniel Faria

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Avaliação e sucesso III

3. “Sem comunicação não existem relações humanas nem vida propriamente dita” (N. Luhmann)

Heidegger dizia que o homem é “aquele que fala” e que “a esfera inteira da presença está presente no dizer”; Gadamer que “não há nada que não seja acessível ao ouvir”; Wittgenstein que “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”; Torga que “somos a voz que temos”; Pessoa que “a minha pátria é a minha língua”. Filósofos, linguistas, hermeneutas, neurobiólogos, pensadores de múltiplas áreas acentuam este carácter essencial do nosso modo humano de ser: tudo o que somos, pensamos, dizemos e fazemos é na e pela linguagem que se constrói. Tudo. Também o aprender e o ensinar. Obviamente, todos o sabemos. E porque o sabemos nos esforçamos em procurar compreender a polissemia do que dizemos, aprendemos e ensinamos. Ou, como Ricoeur prefere, procuramos compreender a plurivocidade dos textos que dizemos, lemos, aprendemos e ensinamos. É que a plurivocidade comporta também a equivocidade, isto é, a possibilidade de nos equivocarmos, a possibilidade de dizermos alhos e ser entendido bugalhos; a possibilidade de estarmos a identificar conteúdos quando estamos a usar conceitos, signos, uma determinada linguagem que talvez seja diferente da que os alunos dominam, conhecem, usam; a possibilidade, enfim, de nos equivocarmos quanto às razões do sucesso ou do insucesso.
É que, se não estiver muito enganado, enquanto não centrarmos a relação pedagógica e educativa na comunicação e na linguagem estaremos sempre na periferia das razões do sucesso ou do insucesso, das razões do êxito ou do fracasso. Se não estiver muito equivocado, só quando reconhecermos que o mundo, isto é, a linguagem, das crianças e adolescentes com quem promovemos o ensinar e o aprender, possa não ser o nosso continuaremos na margem da corrente que leva ao sucesso ou ao insucesso. E, seguramente, esse não é o nosso mundo. O nosso é o mundo dos adultos, o mundo da razão, o mundo da dedução, o mundo feito sobre conhecimentos que fomos construindo ao longo do nosso processo de aprender. É o mundo da linguagem verbal e escrita. O mundo da criança e do adolescente é um mundo em construção a partir do que nós lhe damos e do que outros lhe dão. É a partir desses sinais, desses dados, que são conceitos, que são signos, linguagens, que ele se faz. Se estiver correcta esta convicção (e tenho fortes suspeitas de que esteja correcta), então, quando reconhecermos que a linguagem dominante na criança e no adolescente não é a verbal e muito menos a escrita mas a audiovisual, talvez tenhamos chegado ao patamar, ao portaló, como diz Torga, da verdadeiro desafio do ensinar e do aprender cujo é promover a intercompreensão na relação dinâmica e dialógica entre o eu falo, tu ouves, nós dizemos. É este NÓS que determinará o sucesso ou o insucesso, o êxito ou o fracasso da nossa tarefa pedagógica e educativa. Estou convencido que, enquanto não nos centrarmos na busca dos processos de intercompreensão, quero dizer, enquanto não buscarmos os processos, os meios, as técnicas que promovam o crescimento das crianças e adolescentes com vista à sua autonomia, com vista ao seu ser adulto, enquanto não nos centrarmos no campo em que tudo se faz e se constrói (i.e, a linguagem) estaremos certamente a fazer trabalhos muito meritórios mas continuaremos na margem da corrente. A TV e a Internet continuarão a mostrar-nos que estamos fora de jogo. Pior: continuarão a mostrar-nos que estamos fora do jogo. Será inexorável e irreversível? Se o fosse mais valia eleger os morangos com açúcar como o modelo do ensinar e do aprender. Não, não é. Nem inexorável, nem irreversível. É difícil, exige muita disponibilidade para mudar, muita disponibilidade para nos vermos como essencialmente falantes, para nos aceitarmos como seres que se fazem no mundo que é exclusivamente nosso, humano, o mundo da linguagem, para construirmos o saber não na transmissão ou construção de conteúdos mas de conceitos, signos, linguagens. Estou convencido que é esse o desafio que se nos impõe cada vez com mais premência. E, como em todos os desafios, ou o vencemos ou somos vencidos. Aqui não há empates, não há jogos de soma não nula. Pouco importam as razões da derrota. Importante é enfrentá-lo e vencê-lo. Como? Não sendo, embora, este o momento ou o espaço para o analisar e reflectir sobre alguns aspectos que me parecem essenciais, talvez valha a pena começarmos por pensar em alguma coisa que façamos sem que nela esteja uma palavra, um conceito, uma frase, um texto. Se o encontrarmos então a linguagem não será assim tão importante. Mas se nada encontrarmos que não passe pela linguagem, então valerá a pena nela centrarmos o ensinar e o aprender. Por isso, LaBorderie escreve que “o problema real, fundamental e primeiro da educação” é este: “se as palavras, as imagens, os textos […] têm um sentido para aquele que sabe ainda o não têm para aquele que aprende”. Por isso, Deleuze afirma que “o que limita o verdadeiro não é o falso mas o insignificante”.
Tornemos, pois, significante o que ensinamos e aprendemos, mesmo que saibamos que mais cedo ou mais tarde (certamente mais cedo do que tarde) deixará de ser verdadeiro.

Avaliação e sucesso II

2. “O Sucesso Educativo é o Objectivo Intrínseco da Educação”

A “intrínseca” ligação entre a educação e o sucesso é pouco discutível. Eu próprio o insinuei no post anterior. O estado, através dos órgãos tuteladores da educação e dos seus meios normativos e normalizadores, não se tem cansado de o bradar, os pedagogos e educadores, com mais ou menos reservas, seguem também esse trilho. Mas…(Abro aqui um parêntese: muitas vezes me pergunto sobre a função desencantada do MAS. Está tudo a correr muito bem e logo o MAS nos assalta com a ferocidade de um cão de guarda. Depois com mais calma dou-me conta que a voz desencantada do MAS é também a outra voz, a voz do outro, a voz dos outros saberes que se fizeram na margem dos meus saberes, a voz dos saberes que não são os meus e se me impõem com a premência plurívoca do saber. Concluo que o MAS é a porta que nos mostra quão fugazes são as certezas. Fecho o parêntesse).
Mas, dizia, teremos todos a mesma ideia do que seja o sucesso? O atleta que falha a medalha de ouro que pensará do sucesso? E o alpinista que falha o pico do Evereste mas mesmo assim subiu onde nunca tinha subido? E o nadador salvador que salvou um banhista e não conseguiu salvar o segundo? E o aluno que conseguiu, finalmente, ter todas as classificações positivas? E o aluno que teve 18 valores de média no ensino secundário e não entrou no curso que desejava? E nós, professores e educadores, o que pensamos do sucesso dos nossos alunos e educandos? O que pensamos do sucesso quando sabemos que alunos com insucesso numa escola obtêm-no noutra? O que pensamos quando nos perguntamos sobre a importância, a utilidade, o valor dos métodos e técnicas de avaliação? Quando nos perguntamos se em vez destes métodos e técnicas usarmos outros e soubermos que os resultados serão diferentes? E se soubermos que de uma forma os resultados serão positivos e de outra não? Onde está o sucesso? Onde está o insucesso?
O sucesso é sinónimo de bons resultados académicos ou de bem estar pessoal e social? O sucesso mede-se pelas classificações obtidas ou pela capacidade de responder adequadamente aos desafios com que nos confrontamos? Mede-se pelo reconhecimento social ou pelo êxito pessoal? Mede-se pelo que se mostra ou pelo que se é? Mede-se?
Então, perguntamo-nos, e a avaliação? É possível pensar o sucesso educativo sem avaliação? Em rigor, não, não é. O sucesso apenas o é porque há avaliação. Formal ou informalmente, voluntária ou inconscientemente, o sucesso é sempre o resultado de uma avaliação positiva, o insucesso é o resultado de uma avaliação negativa. Como se vê entramos num novo problema.
A avaliação é tão comum, tão habitual, tão normal que nos arriscamos a não nos darmos conta dela. Quero dizer: do mesmo modo que não nos interessa saber porque é que respiramos, salvo quando os pulmões se queixam, também a avaliação, fruto da sua normal indispensabilidade, se nos impõe sem nos darmos conta dela. Sem a pensarmos. Sem a questionarmos.
Não sendo este o momento oportuno para uma abordagem mais geral e completa, fiquemos apenas com estas considerações, que, pessoalmente, me interessam muito:
“Avaliar é pôr em relação de forma implícita ou explícita um referido […] com um referente” (Lesne). O referido é o que é constatado ou apreendido de uma forma imediata, objecto de investigação sistemática ou de medida; o referente desempenha o papel de norma, de modelo, do que deve ser, de objectivo perseguido, etc.
Impõe-se-nos, então, que o problema está na distância entre, por um lado, o referente, ou seja, entre aquilo que fixa onde queremos chegar, que fixa a meta, o objectivo, o que é desejável e, por outro, o referido, isto é, aquilo que escolhemos como o material que nos permita medir o nível de consecução dos objectivos, das metas, dos desejos. Nossos, já se vê. Impõe-se-nos não só a necessidade de reflectirmos sobre a distância entre o que pretendemos e os meios para consegui-lo, como se nos impõe o problema da definição e escolha dos referentes, dos critérios e das normas que orientarão a avaliação ou para a formação ou para a classificação e selecção. Todos sabemos que não são as mesmas. Todos sabemos que os resultados não são indiferentes a essa definição e escolha.
Ora, se, como diz LaBorderie, a escola é ”desde sempre o império dos signos” e, “muito antes de qualquer outra, ela foi em primeiro lugar uma empresa de comunicação” (idem) e se, como, entre tantos outros, Sto Agostinho afirma, “nada se pode mostrar ou demonstrar sem o uso de signos”, então é na comunicação e na linguagem que devem procurar-se os referentes, os critérios, as normas, as condições que determinam o sucesso ou insucesso de quem ensina e de quem aprende.

Avaliação e sucesso

Mesmo com quase toda a gente a banhos não param as notícias sobre a educação. São os resultados dos exames nacionais, são os realizados à saída da escola primária (5º ano de escolaridade), no Reino Unido, que mostram que um em cada cinco crianças de 11 anos de idade não sabe ler nem escrever. Os rapazes estão em pior situação do que as raparigas. 25% dos rapazes de 11 anos não sabem ler. Nas raparigas, a taxa de iliteracia é mais baixa: 15%. São os piores resultados dos últimos 15 anos; são as "alterações ao ECD" que corresponderiam, segundo a ministra, aos anseios dos professores; são as referências às virtualidades da autonomia das escolas a partir da experiência de Nova Iorque aplicada ao Brasil.
O que proponho aqui é uma reflexão dividida em três partes como um contributo (pequeno já se vê) para o debate que pode fazer-se em torno do sucesso e da avaliação, ou, também poderíamos dizer, do sucesso da avaliação:
1. “Se formar sai caro experimente investir na ignorância”
2. “O Sucesso Educativo é o Objectivo Intrínseco da Educação”
3. “Sem comunicação não existem relações humanas nem vida propriamente dita” .

1. “Se formar sai caro experimente investir na ignorância”
Todos conhecemos o velho princípio socrático: “ninguém pratica o mal voluntariamente mas por ignorância”. À margem das leituras de carácter mais filosófico, aqui interessa-nos sobretudo reconhecer a íntima ligação entre o saber, a ignorância e o bem. É como se Sócrates nos marcasse o âmbito do nosso modo humano de aprender: todo o aprender se orienta para a realização do homem como ser virtuoso, i.e, como praticante da virtude. E como se pratica a virtude? Através do saber.
É aqui que entra a formação.
É aqui que nos encontramos perante o maior desafio que se nos põe. Que nos devemos pôr: somos o que somos na justa medida em que permanentemente nos vamos fazendo. Somos o que somos porque nisso nos fizemos e nos fazemos. Desta ou daquela forma, com mais livros ou mais telenovelas, com mais viagens ou mais ostracismo, com mais convívio ou mais isolamento, com mais conversa ou mais televisão, com mais escola ou mais trabalho infantil, com mais auto estima ou mais auto comiseração, com mais solidariedade ou mais fundamentalismo, com mais estudo ou mais pouco ou nada fazer, com mais trabalho ou mais diversão, com mais formação ou mais ignorância.
Todos o sabemos: o mundo já não é o que era. O mundo dos nossos filhos, dos nossos alunos, já não é o mundo dos nossos 17 anos, já não é o mundo dos nossos pais. Muito menos o dos nossos avós. Todos o sabemos. O que mudou? Fundamentalmente o sentido do tempo. Fundamentalmente a usura do tempo é agora mais rápida, mais feroz. A ferocidade da usura do tempo mede-se pela velocidade com que o tempo passa. Com que a mudança se exprime. Tudo muda. Tudo sempre mudou. Nunca a mudança foi tão veloz como hoje.
É também aqui que entra a formação.
É aqui que se nos impõe a necessidade de combater o tempo na sua senda usurária com a única arma ao nosso alcance: a actualização permanente, isto é, a capacidade de, em qualquer momento e circunstância, sermos capazes de responder de forma eficaz e eficiente aos desafios que se nos colocarem. Só assim nos salvaremos da ignorância, só assim teremos capacidade de intervenção. Assim nos formaremos. Assim nos educaremos. Assim buscaremos o sucesso.

domingo, 2 de agosto de 2009

Parabéns, Zeca

Faz hoje 80 anos que José Afonso nasceu. Que a voz do poeta e a voz da música não se apaguem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Talvez poema

Viveste jovem, meu amigo.
O tempo - nómada incerto deste viver atormentado -
visitava tuas mãos abertas
no sonho dos dias sem mágoa que quiseste fazer

Teus olhos de âmbar
Buscaram a vida o sonho a alma
Que desconhecias

Umas vezes caminhavas sereno ,
outras inquieto perseguias tua sombra de cristal

Não o sabias:
breve breve partirias

Não voltaste

Entro no teu olhar, meu amigo,
Sorris
Abraçamo-nos
Despedimo-nos

Continuas jovem, meu amigo.


(Sei que gostarás de cantar Romaria com Elis Regina. Ainda bem)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ensinar e aprender

Numa altura em que vão sendo apresentados os programas de governo (ou eleitorais, como se quiser) vêm-me à memória dois excertos de textos que me parece poderem contribuir para nos situarmos quanto ao sentido de educar, aprender e ensinar. Que há muita teorias, muitas perspectivas sobre a educação, o ensinar e o aprender todos o sabemos, que todos somos portadores de teorias explicativas do sucesso e do fracasso da educação, também o sabemos, que não há educação sem quem ensine e quem aprenda é igualmente do senso comum. Como compreender, então, que continuemos com o problema da educação, do ensinar e do aprender permanentemente em aberto, apesar de tantos pensadores, tantas teorias e tantos livros e estudos sobre esta actividade especificamente humana. No meu entender a razão principal prende-se com a complexidade humana e, sobretudo, com a complexidade da linguagem humana. Se a realidade natural, social, humana fosse simples há muito que estaria explicada. Tornava-se transparente, conhecíamos todos os seus detalhes. Se a linguagem humana fosse também ela simples, isto é, se as palavras fossem apenas termos e signos e não conceitos e símbolos também não teríamos qualquer dificuldade em transmitir à geração seguinte o que a anterior sabia absolutamente, ou seja, que o que sabia espelhava plenamente a realidade, o ser. Evidentemente, nestas circunstâncias, não haveria espaço para o erro, para a dúvida, a incerteza, a escola perdia sentido e a educação não tinha razão de ser. Educar, ensinar e aprender justificam-se, pois, na complexidade, na opacidade: a realidade que queremos saber e a linguagem em que a dizemos escondem mais do que o que mostram. A missão da escola, da educação, do ensinar e do aprender é torná-las acessíveis ao maior número de homens possível. Sem resignação e sem descriminação de qualquer espécie. Centrada em valores fundantes do modo de nos fazermos homens: a liberdade, a solidariedade, o respeito e a tolerância. A responsabilidade é filha deles.
Nesta perspectiva, a educação, o ensinar e o aprender que não se centrem na linguagem e na sua complexidade plurívoca e nos valores que a sustentam estará ao lado do processo que conduziria ao efectivo crescimento humano.
Por isso, me assaltaram estes excertos, por isso aqui os deixo:
"O problema real, fundamental e primeiro da educação" é o seguinte: "as palavras, as imagens, os textos [...] têm um sentido para aquele que sabe, [mas] ainda o não têm para aquele que aprende" (R. La Borderie, (1994: 33) . O resto, acrescenta ele, não é mais que um invólucro administrativo, jurídico, organizacional, etc. Mas o que está no invólucro, e que demasiadas vezes fica escondido (ou até mesmo lacrado) é a actividade do aluno; actividade essa cujo fundamento é um acto de comunicação"
“Ensinar com seriedade é lidar no que existe de mais vital num ser humano. É procurar acesso ao âmago da integridade de uma criança ou de um adulto. Um Mestre invade e pode devastar de modo a purificar e a reconstruir. O mau ensino, a rotina pedagógica, esse tipo de instrução que, conscientemente ou não, é cínico nos seus objectivos puramente utilitários, é ruinosa. Arranca a esperança pela raiz. O mau ensino é, quase literalmente, criminoso e, metaforicamente, um pecado” (G, Steiner, 2005: 25) .

LA BORDERIE, René (1994) "Poderá falar-se de Comunicação Educativa?", Colóquio Educação e Sociedade, nº 5 Março de 1994, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 30-86))
STEINER, George (2005) As lições dos mestres, Lisboa, Gradiva

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Talvez Poema

O dia, a luz, o sol, o mar
resguardam-se do olhar das sombras da noite
em que os fantasmas acordam
do sono milenar.

Deixemo-los estar.

Fechemos o olhar
para melhor ver
o silêncio
do arco-íris.

terça-feira, 21 de julho de 2009

"Aqui, quem manda sou eu"

A expressão li-a no Terrear. Transporto para o Nós o comentário que lá deixei e acrescento outros elementos de reflexão. Um dos perigos (que pode ser também uma vantagem) do tipo de autonomia e de gestão que está a ser implementada em Portugal é justamente aquilo que chamo "a atomização do ditador", quer dizer, a multiplicação dos comportamentos impuros latentes nos presidentes dos conselhos executivos, democratas por necessidade, não por convicção nem, sobretudo, por dimensão ética. O que, certamente irá acontecer é a contaminação da acção pela fragilidade da liderança que se afirma na sua fraqueza fiscalizadora, controladora, dominadora, incapaz de criar dinâmicas de acção grupal. Por isso, dizia acima, que isto pode ser vantajoso: manifesta o que estava latente.
O ditador é um buraco negro: absorve e, portanto, elimina tudo o que dele se aproxima. O ditador apenas se reconhece a si mesmo. A todos os outros é-lhes negada a existência: ou porque se identificam com o ditador e, consequentemente, anulam a sua própria identidade, a sua individualidade, a sua subjectividade, a sua vontade, a sua liberdade, a sua dimensão ética, a sua razão de ser homem e, por conseguinte, não são o outro mas o mesmo; ou porque simplesmente são eliminados por impossibilidade de integração no ditador e, portanto, deixam de ser. Eliminação metafórica ou real. Essa é a razão porque o ditador abomina a diferença. De resto, é essa a única coisa que ele teme, que abomina. Justamente porque a diferença é a ameaça viral que pode minar a sua narcísica centralidade absoluta. Por isso, a neurótica obcessão com que cria processos panópticos de controlo: tudo tem que ser controlado, vigiado, compartimentado, formatado. Tudo tem que ser igual. Ao ditador, claro.
Ora, o "aqui, quem manda sou eu" é o sintoma desse vírus latente que aguarda silencioso o momento oportuno para se mostrar e contaminar os vivos. Por isso, grita bem alto, para se justificar a si mesmo: "quem manda aqui sou eu".
Coitados, não sabem do medo que trazem no olhar!