segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Chegou a velha e zás, comeu-a

Hoje, o dia após eleições, apetecia-me re-acentuar o escolher como condição ética essencial do ser homem. E apetecia-me colori-la com a polissemia metafórica do poema. Assaltou-me, então, a memória a limpidez de um poema de Mário Henrique Leiria que me segue os passos como sombra do meu andar.

RIFÃO QUOTIDIANO
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia.

Chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a.

É o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

E veio-me à memória uma das canções que nos embalou os sonhos com que alimentámos o presente. Para que a memória não seque e o sonho não se apague!

2 comentários:

Elenáro disse...

Um aviso muito importante! É necessário não baixar os braços e ainda mais importante não optar por um estado de complacência.

jad disse...

Pois é, Elenáro, o estado eufórico tem como sua sombra o estado depressivo. É, pois, necessário "não esperar o acontecer", não adormecer à sombra de umas quaisquer certezas, especialmente quando são mais desejos do que certezas.
Seja como for, toda a acção digna desse nome comporta uma vontade livre que dinamiza as escolhas, mediante as possibilidades que se nos apresentam, num determinado tem+po e num determinado espaço. É o modo como entendemos esta contextualização que nos permite agir de uma forma mais ou menos pertinente, mais ou menos actual, mais ou menos com dimensão interventiva e, portanto, transformadora. Tratando-se de escolha pessoal e livre comporta, portanto, uma dimnsão ética, que é determinante para a nossa humanização.

Peço desculpa, Elenáro, palo alongamenmto do comentário.

Abraço.