terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poema

Já fui rico, fui amado,
entre os meus iguais prezado:
mas, pelos anos curvado,
pelo tempo devorado,
hoje sou mais desprezado
do que o lixo abandonado,
comendo pão mendigado,
dormindo em leito emprestado,
com o rosto desgraçado
por amor nenhum tocado!

Nesta miséria me afundo;
nem em mais nada me afundo:
minha casa é só o mundo,
que percorro, vagabundo.
Já fui feliz e fecundo,
fácil, faceto, facundo,
até no jogo jocundo,
primeiro em tudo no mundo,
hoje nem mesmo segundo:
apenas um vagabundo.

Hugo, primaz de Orléans (sec. XI-XII)

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