2. “O Sucesso Educativo é o Objectivo Intrínseco da Educação”
A “intrínseca” ligação entre a educação e o sucesso é pouco discutível. Eu próprio o insinuei no post anterior. O estado, através dos órgãos tuteladores da educação e dos seus meios normativos e normalizadores, não se tem cansado de o bradar, os pedagogos e educadores, com mais ou menos reservas, seguem também esse trilho. Mas…(Abro aqui um parêntese: muitas vezes me pergunto sobre a função desencantada do MAS. Está tudo a correr muito bem e logo o MAS nos assalta com a ferocidade de um cão de guarda. Depois com mais calma dou-me conta que a voz desencantada do MAS é também a outra voz, a voz do outro, a voz dos outros saberes que se fizeram na margem dos meus saberes, a voz dos saberes que não são os meus e se me impõem com a premência plurívoca do saber. Concluo que o MAS é a porta que nos mostra quão fugazes são as certezas. Fecho o parêntesse).
Mas, dizia, teremos todos a mesma ideia do que seja o sucesso? O atleta que falha a medalha de ouro que pensará do sucesso? E o alpinista que falha o pico do Evereste mas mesmo assim subiu onde nunca tinha subido? E o nadador salvador que salvou um banhista e não conseguiu salvar o segundo? E o aluno que conseguiu, finalmente, ter todas as classificações positivas? E o aluno que teve 18 valores de média no ensino secundário e não entrou no curso que desejava? E nós, professores e educadores, o que pensamos do sucesso dos nossos alunos e educandos? O que pensamos do sucesso quando sabemos que alunos com insucesso numa escola obtêm-no noutra? O que pensamos quando nos perguntamos sobre a importância, a utilidade, o valor dos métodos e técnicas de avaliação? Quando nos perguntamos se em vez destes métodos e técnicas usarmos outros e soubermos que os resultados serão diferentes? E se soubermos que de uma forma os resultados serão positivos e de outra não? Onde está o sucesso? Onde está o insucesso?
O sucesso é sinónimo de bons resultados académicos ou de bem estar pessoal e social? O sucesso mede-se pelas classificações obtidas ou pela capacidade de responder adequadamente aos desafios com que nos confrontamos? Mede-se pelo reconhecimento social ou pelo êxito pessoal? Mede-se pelo que se mostra ou pelo que se é? Mede-se?
Então, perguntamo-nos, e a avaliação? É possível pensar o sucesso educativo sem avaliação? Em rigor, não, não é. O sucesso apenas o é porque há avaliação. Formal ou informalmente, voluntária ou inconscientemente, o sucesso é sempre o resultado de uma avaliação positiva, o insucesso é o resultado de uma avaliação negativa. Como se vê entramos num novo problema.
A avaliação é tão comum, tão habitual, tão normal que nos arriscamos a não nos darmos conta dela. Quero dizer: do mesmo modo que não nos interessa saber porque é que respiramos, salvo quando os pulmões se queixam, também a avaliação, fruto da sua normal indispensabilidade, se nos impõe sem nos darmos conta dela. Sem a pensarmos. Sem a questionarmos.
Não sendo este o momento oportuno para uma abordagem mais geral e completa, fiquemos apenas com estas considerações, que, pessoalmente, me interessam muito:
“Avaliar é pôr em relação de forma implícita ou explícita um referido […] com um referente” (Lesne). O referido é o que é constatado ou apreendido de uma forma imediata, objecto de investigação sistemática ou de medida; o referente desempenha o papel de norma, de modelo, do que deve ser, de objectivo perseguido, etc.
Impõe-se-nos, então, que o problema está na distância entre, por um lado, o referente, ou seja, entre aquilo que fixa onde queremos chegar, que fixa a meta, o objectivo, o que é desejável e, por outro, o referido, isto é, aquilo que escolhemos como o material que nos permita medir o nível de consecução dos objectivos, das metas, dos desejos. Nossos, já se vê. Impõe-se-nos não só a necessidade de reflectirmos sobre a distância entre o que pretendemos e os meios para consegui-lo, como se nos impõe o problema da definição e escolha dos referentes, dos critérios e das normas que orientarão a avaliação ou para a formação ou para a classificação e selecção. Todos sabemos que não são as mesmas. Todos sabemos que os resultados não são indiferentes a essa definição e escolha.
Ora, se, como diz LaBorderie, a escola é ”desde sempre o império dos signos” e, “muito antes de qualquer outra, ela foi em primeiro lugar uma empresa de comunicação” (idem) e se, como, entre tantos outros, Sto Agostinho afirma, “nada se pode mostrar ou demonstrar sem o uso de signos”, então é na comunicação e na linguagem que devem procurar-se os referentes, os critérios, as normas, as condições que determinam o sucesso ou insucesso de quem ensina e de quem aprende.
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