sábado, 15 de agosto de 2009

Poema

Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a húmida areia.
A fugitiva hora, reevoquei-a,
— Tão rediviva! nos meus olhos baços...

Olhos turvos de lágrimas contidas.
— Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes
Ao ponto das primeiras despedidas?

Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...

Toda essa extensa pista — para quê?
Se há-de vir apagar-vos a maré,
Como as do novo rasto que começa...

Camilo Pessanha

4 comentários:

Elenáro disse...

Onda de poesia hoje jad?

jad disse...

Elenáro
É um prazer vê-lo por cá.

Sabe? Estou cada vez mais convencido que a música e a poesia (que é a música em palavras) são a criação humana que melhor nos aproxima do mais profundo de nós. Também a religião, embora noutra dimensão, claro. A filosofia e a ciência são modos de compreendermos ou explicarmos o mundo e a nossa relação com ele. Mas ficam-nos de fora, fazem-nos sair de nós. A poesia e a música (e a religião) levam-nos para dentro de nós. Pessoalmente gosto de estudar filosofia e a ciência que está ao alcance dos meus conhecimentos e gosto de ler poesia e ouvir música (com a religião a história é outra).
Bem-vindo! Sempre!

Elenáro disse...

Concordo plenamente jad!

A musica principalmente para mim é a voz da alma mais que as palavras. Lisa Gerrard para mim é um exemplo disso mesmo. Ela canta muitas vezes numa lingua por ela inventada. Conclusão da letra não se apanha uma mas a musica em si. Expressa tudo sem explicação.

Obrigado pela recepção!

Vou linkar o seu blogue!

jad disse...

Óptimo!
O "desvarios de um louco" faz parte do meu roteiro há algum tempo.