sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O ano do director

Chegou o ano dos directores das escolas. O ano em que irão prestar contas do que fizeram para e pela educação, do que fizeram para e pela escola pública, do que, enfim, fizeram para e pela promoção daqueles que são a razão de ser da escola – os professores e os alunos. E muito terão certamente que dizer.

Já aqui o disse: o problema da direcção e organização da escola não é a designação do cargo, é quem o desempenha. É verdade que “o hábito faz o monge” e que a investigação de “A Prisão de Stanford” mostra à saciedade que a representação de determinados papeis, assumidos com a dedicação incondicional da irracionalidade, vazia, portanto, de bom senso, ponderação e respeito conduz a comportamentos que seriam impensáveis pelos próprios actores, agentes de acções guiados pela afrodisia do poder ou por qualquer outra consciente ou inconsciente razão. Contudo, continuo a pensar que o presidente do conselho directivo ou executivo, dotado de bom senso, promotor do respeito, estimulador de consenso, mobilizador de vontades, catalizador de saberes, que preferia a partilha à concentração, a comunicação à transmissão, a negociação ao constrangimento, que reconhecia a educação como um processo dedicado e delicado, que é preciso promover e valorizar naqueles e por aqueles que ensinam e que aprendem num determinado sítio e tempo, simultaneamente comum e diverso, que era líder da comunidade escolar e não apenas de uma equipa, ou nem isso, que comandava muito e mandava pouco, que não mandava recados por assessores ou “vozes do dono”, que utilizava os conselhos da escola (CP, CT, AE, As Esc...) como momentos privilegiados de mobilização e como órgãos dinâmicos da permanente actualização e mudança sem as quais qualquer organização estará condenada a uma autofagia sem remédio, (especialmente a escola permanentemente desafiada por outras fontes e centros de saber, muito mais interessantes aos olhos das crianças e adolescentes), que exercia o poder para ouvir bem e decidir em benefício do ensinar e do aprender, mais do que de quem ensina e de quem aprende (especialmente se eram poucos e os mesmos os beneficiados), continuo a pensar, dizia, que o presidente, nestas condições, dificilmente deixará de ser um bom director, mesmo com os constrangimentos do ministério e das suas extensões, institucionais e humanas. Tem que o ser em nome da dignidade que ainda nos resta.

Sei bem a pergunta que ocupa o cérebro esquerdo dos que chegaram até aqui: “e quantos presidentes eram assim?!” Pois... Alguns. Mais do que o que o nosso pessimismo e cepticismo admitem e muito menos do que os que desejamos e necessitamos. (O cérebro direito, intuitivo, já havia respondido: poucos, muito poucos).

O ano está a começar e as expectativas são elevadíssimas.
Seremos capazes de suportar a frustração?

4 comentários:

Elenáro disse...

Não há outra hipótese senão suportar. Não há outra hipótese senão uma reviravolta no esquema geral das coisas.

Ou se muda o esquema ou lá se tem que suportar.

Triste fado.

jad disse...

É, Elenáro, é triste o fado do cíclico entusiasmo expectante do outono e do desencanto e frustração do estio, quando nos damos conta de que, afinal, do ano lectivo resta o que fomos capazes de nesinar aos alunos e o desencanto das expectativas frustradas. Ah, resta também, como diz, a reviravolta.

Graza disse...

Muito antes desta luta fraticida que vai no Ensino, reclamava que gostaría de ver em Portugal o estatuto do professor dignificado, por achar os operadores do Ensino tão importantes como os da Saúde, e é manifesto que os estatutos são diferentes. Pelo menos era assim que achava que os meus filhos seríam bem ensinados. Contudo, parece que algures por volta da nossa Revolução alguma coisa se perdeu nesse capítulo. Não sei se poderemos culpar disso a tal massificação. Sou apenas um utente do ensino, enquanto pai, mas acredito que até os "Professores" recolhecerão que também existe internamente alguma dificuldade para que essa dignificação, como a entendo, seja possível. Por outro lado, se há uma profissão que não escolheria hoje é a vossa, de tal forma entendo como deva ser dificil exercê-la nos dias de hoje.

Mas reafirmo que não me parece que os professores possam contar exclusivamente com o poder para o elevamento da qualidade da vossa digna profissão. Parece-me ser uma luta que passa também por vocês por muito traumática que possa ser.

Perdõe-me se há nisto alguma falta de sentido, mas pode ser apenas por falta de focagem ditada pela distância.

Um abraço.

jad disse...

Caro Graza,
Quem dera que todos os pais e encarregados de educação entendessem assim a educação e o papel do professor! Quem dera que todos os professores se entendessem como construtores de homens e não simples transmissores de conteúdos de programas discutíveis na sua premência, actualidade e rigor! Quem dera que assumissem a sua prória construção como condição da sua própria dignificação!
Como sabe, por diversas razões crescemos como povo atados à sombra do poder sempre na esperança que dali sobrasse alguma coisa. Assim fomos perdendo revolução industrial, atrás de revolução industrial. Assim, caímos, quando finalmente pensávamos que nos tínhamos soltado da sombra, numa dependência ainda maior porque, desta vez, o estado já não nos dava o que sobrava mas era obrigado a dar-nos o que pretendíamos. E falhámos a nossa própria construção. Parece pessimista mas não é. É antes a convicção de que temos investido pouco, muito pouco mesmo, na nossa dignificação como professores. Os governos pouco ou nada têm ajudado e/ou até prejudicado mas não podemos responsabilizá-los por aquilo que não fizemos.
Como vê, estou absolutamente de acordo consigo.
Volte sempre. É sempre muito bem-vindo.
Abraço