terça-feira, 19 de outubro de 2010

(In)comunicação burocrática na escola - Introdução

"Não há dúvida de que [na escola] os objectivos são confusos e é frequente a inexistência de acordo quanto à sua natureza entre o corpo docente, os pais e as autoridades" (MORRISH, I, 1981.pag.79).

A transposição do modelo burocrático weberiano, caracterizado por um elevado grau de racionalidade e cujo modelo é a racionalidade industrial, económica e técnica (Marcuse) para a escola enfrenta algumas dificuldades. Com efeito, se as próprias organizações empresariais, orientadas para a produção de bens materiais e de consumo, sentem dificuldades em racionalizar a sua actividade, i.é, em determinar, com rigor e segurança, quais os objectivos e os recursos e meios (humanos, técnicos e financeiros) necessários à sua consecução eficaz e eficiente, muito mais difícil se torna fazê-lo na administração escolar, dada a profusão de variáveis e de recursos de que depende (técnicos, financeiros e humanos, como as demais organizações, mas também, pais, professores, alunos e funcionários, autarquias, estado, etc.). De resto, a consideração da escola como organização, na linha das organizações empresariais, não só não é pacífica, como envolve aspectos que a indiciam como complexa, ambígua e polémica. Como veremos, sistémica e contingencial.

Neste sentido, tanto o meio socio-cultural, como o envolvimento e contexto espaço-temporal assumem na escola enquanto organização um papel em larga medida determinante, tanto para a sua estruturação quanto para a sua eficácia e eficiência (Gabarro, 1971 e Baldrige, 1975 in Gomes 1993: 32). Nestas circunstâncias, o recurso a outros modelos organizacionais é uma tentativa para salvaguardar a consecução dos objectivos, previamente definidos, através da mobilização inteligente dos recursos disponíveis. "Na perspectiva da consecução das metas e da sua racionalidade, escreve Costa Rico (1993, p.3), [as escolas] devem ser administradas, i.é, devem ser reguladas e ordenadas através de procedimentos de planificação, organização, direcção, coordenação e controlo tendentes a assegurar o seu óptimo funcionamento".

Poder-se-ia, eventualmente, considerar a escola como um fábrica em que as matérias primas seriam os alunos, os materiais didácticos e os livros os inputs, o processo de transformação estaria na comunicação/discussão entre professores e alunos, tanto individualmente como em grupo, as tarefas dos alunos, inter-acção informal entre eles, discussões, etc. e o produto final (output) tomaria a forma dos alunos educados e, de preferência, idênticos, uniformes e normalizados. Contudo, embora os estudos não abundem, temos a convicção de que a escola não se confunde com as organizações empresariais. Cremos mesmo que nem de uma "empresa educativa" se trata. Com efeito, distintos são os actores, nas suas motivações, objectivos e finalidades, nos seus saberes, funções e conflitos e, ainda, na sua organização grupal e comunicacional, distintos são os meios e os recursos, distintos são os objectivos, os resultados e os produtos. Além do mais, a complexidade organizacional é uma evidência na escola, como o é igualmente a mobilidade e a mudança da maior parte dos actores que nela actuam, sobretudo os professores e os alunos. A própria divisão entre pessoal docente, discente, administrativo e auxiliar aponta para uma complexidade e ambiguidade administrativas que não tem paralelo nas organizações empresariais, nem, por certo, nas militares e hospitalares, apesar das analogias que entre elas se possam estabelecer.

3 comentários:

Em@ disse...

meu caro jad, desculpa fugir ao assunto do post, mas ando numa lufa-lufa... gosto de ver todos contentes e quero fazer a galeria dos presentes lá do em@. e nem penses que te safas! eu quero um poema teu com 'talvez' ou sem 'talvez'.
despacha-te :D!
beijo

tacci disse...

Teremos de voltar à polémica da quantidade versus qualidade. Nas Finanças, na Economia, na Indústria, nas ciências duras, tudo tem de ser quantificável.
Na Música, nas artes em geral, na Educação sobretudo, graças a Deus, não.
O salto qualitativo faz-se, em calhando, exclusivamente a partir da qualidade.
Um abraço.

jad disse...

Não foi o que sempre fizeste nos anos em que encantaste os teus alunos com a qualidade do teu saber?

Pois é, Tacci, o fantasma da falta de rigor da qualidade está a conduzir-nos à obcecada subjugação às evidências quantificadas e quantificáveis que hão-de secar o que de melhor tem a educação: ajudar a crescer.

Já pensaste (claro que já:)) se um pai e uma mãe tivesse que quantificar em resultados (agora prefere-se "metas", como sabes) do processo de crescimento pessoal e interpessoal dos petizes? Claro, bem o sei, que os "científicos" não reconhecem ao ensino o seu dever educativo... Coisas!...

Abraço e obrigado, Tacci.