Para o Alfonso
Eis-me perante as cinzas em que se tornaram
tuas dores teus dramas teus amores ancorados
no corpo em que moravas deliciado
nos sonhos que inventavas
como se o tempo te envolvesse no solfejo
da sua partitura
e lhe pertencesses sem reservas
e sem rasuras.
Eis-me, meu amigo, perante ti
Vejo-te no sorriso delicado dos abraços
em que nasciam as gargalhadas
em que nos ouvíamos nas conversas
em que nos fazíamos.
Vejo-te inteiro na memória do tempo
sem contornos como se o tempo
fosse apenas a condição de estar vivo
e cronos escapasse à subjugação mecânica
do relógio a que nos acorrentamos
nas minudências dos dias sombrios que nos afundam
esvaziados das promessas
que um dia nos fizemos entre murmúrios
de maresia inalados no sol poente.
Eis-me perante mim
Vejo-te no meu olhar
obscurecido na sombra da tua ausência
iluminado na luz da tua presença
e assim ficamos
abraçados na memória que nos ficou
do tempo eterno que nos sobrou.
É o que nos resta
por agora.
Ambos o sabemos
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
um abraço, jad. em silêncio...
Obrigado, Jorge.
Em silêncio guardamos o melhor do tempo em que nos fazemos. Em silêncio o lembramos.
Abraço.
Beijo, jad.
infelizmente, sei bem de mais, o que é traduzir por palavras estes momento de dor.acho que cheguei à idade de começar a ver partir muitos dos que amo...
"e assim ficamos
abraçados na memória que nos ficou
do tempo eterno que nos sobrou."
_________
vim agradecer-te o teu poema. obrigada por teres aderido. já lá está na galeria.espero que gostes da forma como o apresentei.
outro beijo
Obrigado, Ema.
A morte é uma inevitabilidade. Já o sabemos. Talvez devêssemos voltar ao reconhecimento da neturalidade da morte como parte integrante de nós mesmos. Talvez valesse a pena olharmos para a vida como a existência possível num mundo e tempo possível. Talvez ficássemos a ganhar se encostássemos o possível ao desejável e os alimentássemos com aquilo que os filósofos chamam de "sageza", o viver sábio, o viver bem.
Contudo, uma perda é sempre uma perda. E a de um amigo é uma perda especial atenuada pela memória ou a crença na não-morte.
Cito-me:
Os amigos não morrem
somos nós que morremos
na morte deles.
Abraço
Gostei de perticipar na comemoração. É verdade que nem sempre participo nos desafios que apresentas. A razão é apenas o facto de andar menos assíduo na intervenção blogosférica. Mas ainda não abdiquei daquele em que disse que participava...
Gostei da moldura mas passou-me um tremos pelas costas com a "bússula" em vez de "bússola". Coisas do meu computdor! Se puderes alterar...
Abraço
Enviar um comentário