Nem tudo nos cabe na memória.
Há, contudo, vivências que nunca nos largam
que nos habitam os gestos
nos seguem os passos
nos marcam os dias
e em nós vivem
com a mesma frescura
a mesma luz
a mesma ternura
da primeira vez.
Com elas alimentamos os sonhos
com que inventamos os arco-íris
que nos iluminam o olhar
e regressam sempre
plenas e puras
como se o tempo parasse
e se recusasse perturbar
a beleza encantada
dos olhinhos de espanto
que espreitam o mundo
entre as mãos atentas
dos pais acabados de nascer
para que o perfeito momento
se perpetuasse
e nada perturbasse
a plenitude
do amor.
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6 comentários:
e essas vivências que nos habitam, boas ou más, é que vão abrindo ou fechando as portas internas, que permitem nossa comunicação com o mundo.
linda essa imagem dos pais acabados de nascer!
um abraço
(logo volto para ler sobre a opacidade e transparência ;)
Jad:
nestes últimos dois meses ando a fazer umas viagens colectivas a memórias comuns da adolescência e iníco da juventude com um grupo de antigos amigos e colegas que não se viam desde a nossa Diáspora. tem sido tempo proveitoso. no meu caso muito até.a memória é um terreno "lixado"...
abraço
também gostei muito da imagem "dos pais acabados de nascer".
abraço
Boa moite, Andrea
A memória são as raízes que nos prendem à vida. Sabemos da sua selectividade e sabemos também que, por um exercício de salvaguarda do nosso próprio equilíbrio pessoal, vamos gerindo os baús que temos na memória. Um dia abrimos o dos degostos, das mágoas, das feridas; outro abrimos o dos sorrisos, da solidariedade, da dádiva, da ternura, do carinho, do afecto, que nos aquece os dias; outro ainda, abrimos o pior de todos: o da indiferença e nele nos afundamos num abismo autoflagelador.
Como já referi noutras ocasiões, devemos guardar a memória de tudo o que nos for possível guardar mas apenas vale a pena alimentar as memórias que nos elevam, que nos afastam da animalidade no sentido que Kant lhe dá.
Abraço, Andreia. É sempre bom ter-te por aqui.
Bem-vinda, Em@.
É verdade, "a memória é um terreno "lixado"...". Como um nutriente do sentido da vida é-nos indispensável mas, como qualquer alimento, pode matar-nos de excesso. Podemos ficar-lhe agrilhoados e tornarmo-nos incapazes de viver porque incapazes de reconhecer o presente, de reconhecer a importância do que nos vai acontecendo simplesmente porque não é o espelho em que nos vemos.
Mas é tão bom vemo-nos nos rostos dos nossos amigos dos nossos verdes anos, não é?!
Também gosto dos "pais acabados de nascer". Porém, não sendo plágio, é familiar, digamos, prima em 2º grau, de Herberto Hélder:
“As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam […]”,
do poema mais lindo que conheço sobre a mãe e com o qual encerro o texto "opacidade e transparência do dizer educativo".
Grato, Em@. Abraço.
Gostei muito da sua visita.
Também já me passeei pelo seu blog e gostei do que li e vi. Este poema "Tavez poema" é mais que poema!
Ainda bem que há palavras que nos animam como estas, pois há realmente vivências que nunca nos largam e fico feliz que assim seja!Algumas nem precisamos de nos lembrar delas, outras vamos buscá-las à memória onde as guardámos e outras... claro, outras até gostávamos de as apagar! Mas se aconteceram quero acreditar que foi por algum motivo, embora por vezes nos falte (e a mim falta :)) a lucidez para perceber.
Como vê... este "Talvez poema" encantou-me!
Voltarei!
Abraço
Bem-vinda, JB. O encanto é meu pela visita e pelo comentário. Tenho por princípio guardar tudo o que de importante se me afigura e não me martirizar com "o que poderia ter acontecido" ou com "o que poderá vir a acontecer". Sobre o que não é possível intervir ou alterar não vale a pena gastarmo-nos. Vivamos com a memória nos passos e o sonho no olhar. É um bom caminho, creio eu.
Grato. Aguardo mais pegadas.
Abraço.
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