Estava marcado um “exercício escrito” para hoje (9 de Fev 2009). Como sempre houve um período inicial de esclarecimento de dúvidas. Prolongou-se até ao fim da aula. Todos os alunos reconheceram que assim deviam ser as aulas: momentos de diálogo, de discussão, de comunicação em busca do esclarecimento das dúvidas que apenas o estudo traz. Razão tinha João Santos quando titulou o seu livro, escrito com João de Sousa Monteiro, Se não sabe porque é que pergunta?.
Uma vez mais fiz ver da importância do estudo para a construção pessoal e construção do saber pessoal. Reconheceram-no mas... exigia mais estudo e isso é que é difícil.
Um dos grandes problemas (a meu ver) de quem estuda e que condiciona os resultados académicos e o desenvolvimento pessoal das aprendizagens é a disciplina do tempo. São tantas as solicitações, todas elas mais atraentes (porque menos exigentes) do que o estudar que, senão houver um tempo reconhecido pelo próprio estudante como necessário à preparação diária dos temas, facilmente o estudo ficará atirado para o folhear das páginas do livro ou para a construção de “cábulas” na véspera dos momentos de avaliação. E é o desastre!
Claro que há a linguagem e a correspondente estimulação neuropsíquica desde mesmo o período pré-natal. Nessa estimulação se joga o desenvolvimento mental, intelectual, motor, pessoal, psicológico, social. Numa palavra: não se nasce crescido!
Mas o que fazer com jovens estudantes nascidos e criados em meios que desdenham de quem sabe mas não tem, que desdenham da escola, do esforço, do dever? O que fazer com alunos cujos pais e encarregados de educação não vão além da escolaridade obrigatória, têm profissões de baixo nível de exigência intelectual, que, também eles, desdenham da escola e dos professores, do saber e do dever e elegem as personagens TV como modelos de um mundo fantástico, fantasiado, em linha paralela ao real? (Tão paralelo que, ao mesmo tempo que se reconhece, também é impossível encontrá-lo, como duas linhas paralelas seguindo lado a lado).
Há também a TV como linguagem, como transparência em confronto com a opacidade da linguagem natural. (A este propósito ver de José Alberto Damas “Opacidade e Transparência no Dizer Educativo”, publicado na revista Itinerários de Filosofia da Educação, nº 3, 1º semestre de 2006, Porto, FLUP).
E há ainda a falta de um projecto educativo coerente, assente em conhecimentos actuais da realiade sócio-económico-cultural das populações juvenis. A falta de um projecto educativo coerente para o país, adequado às necessidades e às convicções das gerações mais velhas e com dimensão mobilizadora para as gerações mais novas conduz a uma permanente produção e reformulação legislativa incapaz de responder à dinâmica sócio-cultural porque está sempre atrasada. É sempre reactiva e incapaz de mobilizar os sujeitos da educação na escola: os professores, os alunos, os auxiliares e funcionários, os pais e encarregados da educação.
Como poderão mobilizar-se os sujeitos da educação se vivem na convicção de que a seguir virá um novo regulamento, uma nova lei, um novo decreto, um novo despacho, circular, esclarecimento ao despacho, ofício da DRE, da DGRE, da DGRHE, etc, etc, que dará novas indicações, que exigirá novos planos, novos comportamentos?...
É estranha a capacidade de produção regulamentar do ME!
Há aqui qualquer coisa de errado. Há aqui qualquer coisa que tolda o discernimento dos inquilinos da 5 de Outubro e da 24 de Julho. Porque das duas uma: ou o estado tem uma ideia para a educação ou não tem. Se tem e a avassaladora produção regulamentar está de acordo com ela, então só podemos esperar a desgraça. Com efeito, é manifestamente impossível cumprir o desígnio de saber ser, saber estar, saber fazer e saber pensar de que se fazem as sociedades dinâmicas, activas e cultas sem que os sujeitos educativos tenham tempo e espaço para se organizarem pessoal, mental, social e intelectualmente. É que, como os movimentos e teorias organizacionais pós-burocracia mostraram, quando tudo se pretende controlar e regulamentar perde-se a capacidade de responder à mudança que caracteriza as sociedades desenvolvidas e/ou em vias de desenvolvimento, perde-se capacidade de intervenção imprescindível para a sustentabilidade da democracia, pedem-se cidadãos e ganham-se indivíduos desmotivados, servis e conflituosos: servis até ao momento em que tomem consciência da sua própria degradação humana.
Nessa altura, tornar-se-ão ferozes promotores do conflito, sem regras nem projecto. Nessa altura, o estado lançará mão do aparelho repressivo. Demasiado tarde. Todos os sabemos. E, contudo, insiste-se em construir a casa da educação preocupados com o telhado e, nalguns casos, preocupados sobretudo e/ou apenas com a pintura, com o que se vê, com o que aparece, com o aparente. E, quando a casa cair ou abrir brechas de difícil recuperação lamentamos o descuido com o terreno, com os alicerces, as bases, a estrutura, o desenvolvimento equilibrado e sustentado. Então, uns levantarão o dedo acusador, outros assobiarão para o lado e a história rir-se-á da estulta obsessão pelos resultados sem ter sido valorizada e cuidada a formação de mestres e aprendizes. E lamentar-se-á o tempo perdido. E responsabilizar-se-á a incompetência, a incapacidade e a inabilidade dos mestres. E cairemos no vazio.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Chegou a velha e zás, comeu-a
Hoje, o dia após eleições, apetecia-me re-acentuar o escolher como condição ética essencial do ser homem. E apetecia-me colori-la com a polissemia metafórica do poema. Assaltou-me, então, a memória a limpidez de um poema de Mário Henrique Leiria que me segue os passos como sombra do meu andar.
RIFÃO QUOTIDIANO
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia.
Chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a.
É o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
E veio-me à memória uma das canções que nos embalou os sonhos com que alimentámos o presente. Para que a memória não seque e o sonho não se apague!
RIFÃO QUOTIDIANO
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia.
Chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a.
É o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
E veio-me à memória uma das canções que nos embalou os sonhos com que alimentámos o presente. Para que a memória não seque e o sonho não se apague!
sábado, 26 de setembro de 2009
Esquerda e Direita com "G comme Gauche" de Deleuze
Não é propriamente um tema que me apaixone mas, em vésperas de eleições, pareceu-me interessante recorrer a um filósofo francês, lido e respeitado mesmo por Alan Sokal e Jean Bricmont, os autores de Imposturas Intelectuais, onde reduziam as ciências humanas a um conjunto de imposturas sem nexo e sem fundamento. Do barulho que esse livro provocou um pouco por todo o mundo (em Portugal passámos ao lado...) não vem a propósito. Mas do que G. Deleuze pensa sobre o que distingue esquerda e direita parece-me muito importante. Especialmente numa altura em que os traços identificadores da prática política parecem ser cada vez menos dicotómicos e mais embrulhados num novelo indistinto. Especialmente para aqueles que já não sabem se são de esquerda ou de direita. (O centro parece-me o apeadeiro onde se pára à espera do próximo comboio, que vai para a esquerda ou para a direita. Claro, claro,... pode avariar e ficar ali parado... Mas é um comboio avariado!... Até que outro o venha substituir e vá para a esquerda ou para a direita. Entretanto, o apeadeiro vai enchendo, enchendo, os passageiros começam a ficar incomodados, depois, indispostos, depois, impacientes, depois, protestam, depois, bom, depois, quando o comboio chegar, uns entrarão no 1º que chegar, apenas para saírem dali e descerão no próximo apeadeiro à espera do próximo comboio, outros esperarão por aquele que melhor satisfizer o seu desencanto e vão para a direita ou para a esquerda).
Li ou ouvi, não sei bem (ou não terei lido nem ouvido e simplesmente sou eu que penso tê-lo lido ou ouvido?! Para o caso o importante é que) o que essencialmente distingue a esquerda da direita é o inconformismo. A esquerda é inconformista, a direita conformista, a esquerda é inovadora, a direita conservadora. Mas aqui surge um problema: a maioria é sempre conservadora, apenas a minoria é revolucionária, inovadora. A maioria cuida sempre de nutrir-se e, para isso, vai gerindo a situação, vai se conservando, vai criando condições de estabilidade, quer dizer, vai criando condições para que a mudança não vá além da conservação da estabilidade. A maioria abomina a mudança, a maioria conserva a estabilidade.
Ora, se a esquerda é inconformista e a maioria conformista e conservadora... Pois!...
Descansem os que se reconhecem de esquerda: nenhum organismo ou organização consegue viver na inovação permanente, na desestruturação permanente, no caos sem nexo... Descansem os que se reconhecem de direita: nenhum organismo ou organização consegue viver sem inovação... Descansem os centristas: os comboios continuarão a passar em horário mais ou menos certo (há apenas uns pequenos ajustamentos...).
Para melhor esclarecimento fiquem com Deleuze, de viva voz.
Li ou ouvi, não sei bem (ou não terei lido nem ouvido e simplesmente sou eu que penso tê-lo lido ou ouvido?! Para o caso o importante é que) o que essencialmente distingue a esquerda da direita é o inconformismo. A esquerda é inconformista, a direita conformista, a esquerda é inovadora, a direita conservadora. Mas aqui surge um problema: a maioria é sempre conservadora, apenas a minoria é revolucionária, inovadora. A maioria cuida sempre de nutrir-se e, para isso, vai gerindo a situação, vai se conservando, vai criando condições de estabilidade, quer dizer, vai criando condições para que a mudança não vá além da conservação da estabilidade. A maioria abomina a mudança, a maioria conserva a estabilidade.
Ora, se a esquerda é inconformista e a maioria conformista e conservadora... Pois!...
Descansem os que se reconhecem de esquerda: nenhum organismo ou organização consegue viver na inovação permanente, na desestruturação permanente, no caos sem nexo... Descansem os que se reconhecem de direita: nenhum organismo ou organização consegue viver sem inovação... Descansem os centristas: os comboios continuarão a passar em horário mais ou menos certo (há apenas uns pequenos ajustamentos...).
Para melhor esclarecimento fiquem com Deleuze, de viva voz.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Poema
As mãos
Como são belas as mãos
tão meigas sobre o regaço,
felizes como o abraço
fraterno de dois irmãos.
As tuas mãos são assim,
duas aves à espera
dos dias da Primavera
p'ra voarem até mim.
Voam ledas, livremente,
tão brancas, ágeis e leves,
mas tão frágeis e tão breves
em seu voo adolescente!
E pousam devagarinho,
como quem não quer pousar;
hesitam deixam-se estar,
e nas minhas fazem ninho.
António José Queirós
Como são belas as mãos
tão meigas sobre o regaço,
felizes como o abraço
fraterno de dois irmãos.
As tuas mãos são assim,
duas aves à espera
dos dias da Primavera
p'ra voarem até mim.
Voam ledas, livremente,
tão brancas, ágeis e leves,
mas tão frágeis e tão breves
em seu voo adolescente!
E pousam devagarinho,
como quem não quer pousar;
hesitam deixam-se estar,
e nas minhas fazem ninho.
António José Queirós
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Do medo de errar
O ponto de partida é este post de Grazza no blog Arroios (http://rendarroios.blogspot.com)
"A Liberdade.
- Há quem não queira ser livre!
O seu a seu dono: a frase, foi uma constatação desanimada de Pedro Lomba, na RTP2, a propósito de uma sondagem que dava 75% de respostas a favor do voto obrigatório.
Há frases como tiros. E se este for no povo também um mecanismo a considerar, que explique o fascínio episódico das sociedades para formatos tirânicos de organização política que legitima as ditaduras? É como se no fundo, um medo maior de outra coisa, a Liberdade, não sei se a sua se a dos outros, mas tanto faz agora, se sobrepusesse a um tipo de medo reverencial ao ditador, tido normalmente como um salvador de pátrias.
Mas esses, serão sempre medos e coisas de berço mal tratadas, porque é isso que leva a que haja tanto sacripanta coberto pela legitimação do voto, sempre de botas bem lambidas".
Do ditador como um “buraco negro” e a sua relação com a diferença já aqui falei.
E o erro? E a verdade? E a liberdade? E o medo de escolher e de errar?
Ser livre significa ter a possibilidade de escolher. Não importa o quê, não importa quem. Importa sim haver possibilidades e poder escolher. É que podermos escolher mas não haver o quê, ou haver o quê escolher e não poder fazê-lo inviabiliza o exercício determinante da eticidade do agir: a liberdade. Repare-se: “exercício determinante”. A liberdade é a condição da moralidade da acção, como se o princípio que nos eleva da “animalidade” para a “humanidade” (Kant) se impusesse como condição sem a qual toda a actividade humana perderia sentido. Somos homens justamente porque somos imperfeitos e livres. Dito de outro modo: apenas o exercício livre de escolha faz de nós homens. Portanto, ser homem é ser livre, é poder escolher de entre as possibilidades que tiver ao seu dispor ou for capaz de inventar.
Numa outra dimensão, razão tinha Sartre quando escreveu que “o homem está condenado a ser livre”. Apenas no exercício da liberdade o homem afirma a sua humanidade. E neste exercício se confronta com a sua fragilidade e temor. É frágil porque incapaz de tudo poder ou saber, temeroso porque incapaz de conhecer todas as possibilidades sobre as quais exerce a sua escolha. À maneira kierkegardiana, a impossibilidade de conhecer a infinidade de todas as possibilidades leva-nos sempre à impossível certeza de termos feito a melhor escolha. Como se no momento de escolher qual o caminho a seguir nos confrontássemos com a absoluta certeza de que podemos escolher o caminho errado, sem, contudo, podermos deixar de escolher. Simplesmente porque não sabemos se esse é o caminho certo ou errado. Claro que se soubéssemos qual era o caminho certo nunca escolheríamos o errado. Mas não o sabemos. E, por isso, estamos sempre sujeitos ao erro. Reafirmo: erramos porque somos obrigados a escolher no exercício livre da nossa capacidade e não conhecemos todas as possibilidades. Consequentemente, qualquer escolha certa resulta de uma escolha que, num determinado momento se apoiou nas melhores possibilidades, ou, se quisermos, recorreu aos melhores factores, aos melhores indícios para aceder à escolha certa, à escolha que melhor correspondia ao que sabíamos. Que melhor correspondia à verdade. (Do problema da verdade havemos de falar noutra ocasião).
E o erro? O erro resulta da escolha que num determinado momento fizemos recorrendo aos factores, aos indícios que, embora nos parecessem os melhores, não o eram. E é aqui que se coloca o problema que atormenta aqueles que têm um pavor desumano pela possibilidade de errar. Receiam tanto o erro que, para não terem que escolher, afirmam a impossibilidade de alternativa, de outros caminhos, de outros saberes. Resta-lhes, então, como dizia Sousa Monteiro há muitos anos, “pensar pela garganta alheia”, repetir o que outros pensam como superação da sua própria incapacidade de pensar, da sua própria incapacidade de escolher a possibilidade de errar.
É sempre mais confortável a certeza do que a dúvida. Quem escolhe, quem usa a sua capacidade de escolher arrisca a possibilidade do erro e nunca se livra da angústia de nunca ter a certeza de ter escolhido bem.
Resta-lhe, pois, assumir a sua essencial natureza frágil e buscar as melhores razões para escolher o melhor. E disso fazer a sua humanidade.
"A Liberdade.
- Há quem não queira ser livre!
O seu a seu dono: a frase, foi uma constatação desanimada de Pedro Lomba, na RTP2, a propósito de uma sondagem que dava 75% de respostas a favor do voto obrigatório.
Há frases como tiros. E se este for no povo também um mecanismo a considerar, que explique o fascínio episódico das sociedades para formatos tirânicos de organização política que legitima as ditaduras? É como se no fundo, um medo maior de outra coisa, a Liberdade, não sei se a sua se a dos outros, mas tanto faz agora, se sobrepusesse a um tipo de medo reverencial ao ditador, tido normalmente como um salvador de pátrias.
Mas esses, serão sempre medos e coisas de berço mal tratadas, porque é isso que leva a que haja tanto sacripanta coberto pela legitimação do voto, sempre de botas bem lambidas".
Do ditador como um “buraco negro” e a sua relação com a diferença já aqui falei.
E o erro? E a verdade? E a liberdade? E o medo de escolher e de errar?
Ser livre significa ter a possibilidade de escolher. Não importa o quê, não importa quem. Importa sim haver possibilidades e poder escolher. É que podermos escolher mas não haver o quê, ou haver o quê escolher e não poder fazê-lo inviabiliza o exercício determinante da eticidade do agir: a liberdade. Repare-se: “exercício determinante”. A liberdade é a condição da moralidade da acção, como se o princípio que nos eleva da “animalidade” para a “humanidade” (Kant) se impusesse como condição sem a qual toda a actividade humana perderia sentido. Somos homens justamente porque somos imperfeitos e livres. Dito de outro modo: apenas o exercício livre de escolha faz de nós homens. Portanto, ser homem é ser livre, é poder escolher de entre as possibilidades que tiver ao seu dispor ou for capaz de inventar.
Numa outra dimensão, razão tinha Sartre quando escreveu que “o homem está condenado a ser livre”. Apenas no exercício da liberdade o homem afirma a sua humanidade. E neste exercício se confronta com a sua fragilidade e temor. É frágil porque incapaz de tudo poder ou saber, temeroso porque incapaz de conhecer todas as possibilidades sobre as quais exerce a sua escolha. À maneira kierkegardiana, a impossibilidade de conhecer a infinidade de todas as possibilidades leva-nos sempre à impossível certeza de termos feito a melhor escolha. Como se no momento de escolher qual o caminho a seguir nos confrontássemos com a absoluta certeza de que podemos escolher o caminho errado, sem, contudo, podermos deixar de escolher. Simplesmente porque não sabemos se esse é o caminho certo ou errado. Claro que se soubéssemos qual era o caminho certo nunca escolheríamos o errado. Mas não o sabemos. E, por isso, estamos sempre sujeitos ao erro. Reafirmo: erramos porque somos obrigados a escolher no exercício livre da nossa capacidade e não conhecemos todas as possibilidades. Consequentemente, qualquer escolha certa resulta de uma escolha que, num determinado momento se apoiou nas melhores possibilidades, ou, se quisermos, recorreu aos melhores factores, aos melhores indícios para aceder à escolha certa, à escolha que melhor correspondia ao que sabíamos. Que melhor correspondia à verdade. (Do problema da verdade havemos de falar noutra ocasião).
E o erro? O erro resulta da escolha que num determinado momento fizemos recorrendo aos factores, aos indícios que, embora nos parecessem os melhores, não o eram. E é aqui que se coloca o problema que atormenta aqueles que têm um pavor desumano pela possibilidade de errar. Receiam tanto o erro que, para não terem que escolher, afirmam a impossibilidade de alternativa, de outros caminhos, de outros saberes. Resta-lhes, então, como dizia Sousa Monteiro há muitos anos, “pensar pela garganta alheia”, repetir o que outros pensam como superação da sua própria incapacidade de pensar, da sua própria incapacidade de escolher a possibilidade de errar.
É sempre mais confortável a certeza do que a dúvida. Quem escolhe, quem usa a sua capacidade de escolher arrisca a possibilidade do erro e nunca se livra da angústia de nunca ter a certeza de ter escolhido bem.
Resta-lhe, pois, assumir a sua essencial natureza frágil e buscar as melhores razões para escolher o melhor. E disso fazer a sua humanidade.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
sábado, 19 de setembro de 2009
Talvez poema
Nós
Somos a voz
que nasce do silêncio primordial
metamorfose do tempo
da palavra
do caldo cósmico
de que nos fazemos
Nós
que viajamos
que chegamos
que partimos
que andamos
de cá para lá
de lá para cá
ao deus dará
que pensamos
que fugimos de
Nós
que dormimos
que acordamos
que fingimos
que dormimos
quando acordamos
(e o contrário também)
que duvidamos que pensamos
quando pensamos que duvidamos
que falamos de
Nós
que dizemos
que nos fazemos
uns com os outros
aqui e agora
olhando o futuro
que habita a memória de
Nós
que acreditamos
que amamos
que magoamos
que gritamos
que silenciamos
o outro que somos
Nós
que calamos a tristeza
no silêncio das lágrimas
que nos regam
a alma
o olhar
a sombra
que nos empurra os passos
peregrinos de
Nós
que somos
nós da rede de babel
comunidade
gesto
palavra
frutos maduros do tempo
que havemos de colher
que havemos de comer
uns com os outros
falantes
caminhantes
que havemos de dizer
o sonho
que habita em
Nós
que somos homens
Somos a voz
que nasce do silêncio primordial
metamorfose do tempo
da palavra
do caldo cósmico
de que nos fazemos
Nós
que viajamos
que chegamos
que partimos
que andamos
de cá para lá
de lá para cá
ao deus dará
que pensamos
que fugimos de
Nós
que dormimos
que acordamos
que fingimos
que dormimos
quando acordamos
(e o contrário também)
que duvidamos que pensamos
quando pensamos que duvidamos
que falamos de
Nós
que dizemos
que nos fazemos
uns com os outros
aqui e agora
olhando o futuro
que habita a memória de
Nós
que acreditamos
que amamos
que magoamos
que gritamos
que silenciamos
o outro que somos
Nós
que calamos a tristeza
no silêncio das lágrimas
que nos regam
a alma
o olhar
a sombra
que nos empurra os passos
peregrinos de
Nós
que somos
nós da rede de babel
comunidade
gesto
palavra
frutos maduros do tempo
que havemos de colher
que havemos de comer
uns com os outros
falantes
caminhantes
que havemos de dizer
o sonho
que habita em
Nós
que somos homens
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
O ano do director
Chegou o ano dos directores das escolas. O ano em que irão prestar contas do que fizeram para e pela educação, do que fizeram para e pela escola pública, do que, enfim, fizeram para e pela promoção daqueles que são a razão de ser da escola – os professores e os alunos. E muito terão certamente que dizer.
Já aqui o disse: o problema da direcção e organização da escola não é a designação do cargo, é quem o desempenha. É verdade que “o hábito faz o monge” e que a investigação de “A Prisão de Stanford” mostra à saciedade que a representação de determinados papeis, assumidos com a dedicação incondicional da irracionalidade, vazia, portanto, de bom senso, ponderação e respeito conduz a comportamentos que seriam impensáveis pelos próprios actores, agentes de acções guiados pela afrodisia do poder ou por qualquer outra consciente ou inconsciente razão. Contudo, continuo a pensar que o presidente do conselho directivo ou executivo, dotado de bom senso, promotor do respeito, estimulador de consenso, mobilizador de vontades, catalizador de saberes, que preferia a partilha à concentração, a comunicação à transmissão, a negociação ao constrangimento, que reconhecia a educação como um processo dedicado e delicado, que é preciso promover e valorizar naqueles e por aqueles que ensinam e que aprendem num determinado sítio e tempo, simultaneamente comum e diverso, que era líder da comunidade escolar e não apenas de uma equipa, ou nem isso, que comandava muito e mandava pouco, que não mandava recados por assessores ou “vozes do dono”, que utilizava os conselhos da escola (CP, CT, AE, As Esc...) como momentos privilegiados de mobilização e como órgãos dinâmicos da permanente actualização e mudança sem as quais qualquer organização estará condenada a uma autofagia sem remédio, (especialmente a escola permanentemente desafiada por outras fontes e centros de saber, muito mais interessantes aos olhos das crianças e adolescentes), que exercia o poder para ouvir bem e decidir em benefício do ensinar e do aprender, mais do que de quem ensina e de quem aprende (especialmente se eram poucos e os mesmos os beneficiados), continuo a pensar, dizia, que o presidente, nestas condições, dificilmente deixará de ser um bom director, mesmo com os constrangimentos do ministério e das suas extensões, institucionais e humanas. Tem que o ser em nome da dignidade que ainda nos resta.
Sei bem a pergunta que ocupa o cérebro esquerdo dos que chegaram até aqui: “e quantos presidentes eram assim?!” Pois... Alguns. Mais do que o que o nosso pessimismo e cepticismo admitem e muito menos do que os que desejamos e necessitamos. (O cérebro direito, intuitivo, já havia respondido: poucos, muito poucos).
O ano está a começar e as expectativas são elevadíssimas.
Seremos capazes de suportar a frustração?
Já aqui o disse: o problema da direcção e organização da escola não é a designação do cargo, é quem o desempenha. É verdade que “o hábito faz o monge” e que a investigação de “A Prisão de Stanford” mostra à saciedade que a representação de determinados papeis, assumidos com a dedicação incondicional da irracionalidade, vazia, portanto, de bom senso, ponderação e respeito conduz a comportamentos que seriam impensáveis pelos próprios actores, agentes de acções guiados pela afrodisia do poder ou por qualquer outra consciente ou inconsciente razão. Contudo, continuo a pensar que o presidente do conselho directivo ou executivo, dotado de bom senso, promotor do respeito, estimulador de consenso, mobilizador de vontades, catalizador de saberes, que preferia a partilha à concentração, a comunicação à transmissão, a negociação ao constrangimento, que reconhecia a educação como um processo dedicado e delicado, que é preciso promover e valorizar naqueles e por aqueles que ensinam e que aprendem num determinado sítio e tempo, simultaneamente comum e diverso, que era líder da comunidade escolar e não apenas de uma equipa, ou nem isso, que comandava muito e mandava pouco, que não mandava recados por assessores ou “vozes do dono”, que utilizava os conselhos da escola (CP, CT, AE, As Esc...) como momentos privilegiados de mobilização e como órgãos dinâmicos da permanente actualização e mudança sem as quais qualquer organização estará condenada a uma autofagia sem remédio, (especialmente a escola permanentemente desafiada por outras fontes e centros de saber, muito mais interessantes aos olhos das crianças e adolescentes), que exercia o poder para ouvir bem e decidir em benefício do ensinar e do aprender, mais do que de quem ensina e de quem aprende (especialmente se eram poucos e os mesmos os beneficiados), continuo a pensar, dizia, que o presidente, nestas condições, dificilmente deixará de ser um bom director, mesmo com os constrangimentos do ministério e das suas extensões, institucionais e humanas. Tem que o ser em nome da dignidade que ainda nos resta.
Sei bem a pergunta que ocupa o cérebro esquerdo dos que chegaram até aqui: “e quantos presidentes eram assim?!” Pois... Alguns. Mais do que o que o nosso pessimismo e cepticismo admitem e muito menos do que os que desejamos e necessitamos. (O cérebro direito, intuitivo, já havia respondido: poucos, muito poucos).
O ano está a começar e as expectativas são elevadíssimas.
Seremos capazes de suportar a frustração?
terça-feira, 15 de setembro de 2009
1969 - 40 anos
Há 40 anos foi o amor, a euforia, a ressaca, a Sorbonne, a rue du Bac e as vozes que nos alimentaram o sonho.
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