sábado, 30 de outubro de 2010

La vida es una tombola

"Já pensaste no jogador que teria sido se não tivesse tomado cocaína?!" (Maradona).
No dia do seu 50º aniversário vale a pena lembrar a fragilidade de um homem que alguns chamaram "deus" e a beleza do seu jogo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Talvez poema

Não sei!
Da luz da varanda do meu quarto
proclamo bem alto
(para que não restem dúvidas)
a qualidade do meu não saber;
proclamo com a voz que me faz viver
(para que todos fiquem a saber)
a clareza da minha certeza;
proclamo com a força do eco do meu grito
(para que todos fiquem convencidos)
a minha ignorância sobre o amor a vida a morte
e o futuro que me espera
entre tantas coisas sábias que os sábios sabem
e eu não sei.

Espero vivo e amo.
É-me bastante.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

(In)comunicação burocrática na escola 1. Burocracia na escola

"The choice is only between bureaucracy and dilettantism in the field of administration". Weber
"Só quem tenha tido o atrevimento de pedir a um computador que forneça uma lista completa de títulos sobre burocracia poderá ter a noção exacta da quantidade de papel já gasta na discussão do assunto, rivalizando em volume com a produção da própria burocracia."
Beetham

A consideração da escola como organização, não sendo unívoca, não deixa, contudo, de ser aceite como tal pela generalidade dos investigadores, quer sendo entendida como "organização burocrática" (na linha de Weber) ou "organização complexa burocrática" (Etzioni), quer como "organização formal" e "organização de serviços" (Blau e Scott), ou como "sistema aberto" (Thompson) e "contingencial" (Goodlad), quer ainda como "organização cultural" (Crozier e Friedberg), quer mesmo como "escola de serviço público" (Formosinho). É, pois, possível deparar com uma grande quantidade e diversidade de conceitos, de pontos de vista e de teorias sobre a escola como organização. Como veremos e a reduzida enumeração anterior faz antever nem todos os modelos assumem os mesmos princípios ou fundamentos, embora todos pretendam, por caminhos diferentes e até divergentes, atingir os objectivos e finalidades previamente definidos do modo mais fiel e adequado. Igualmente com os menores custos. Portanto, o mais eficaz e eficientemente possível.

Segundo Weber, eram também a eficácia e a eficiência que tornavam a racionalidade burocrática tecnicamente superior a todas os outras formas de organização, semelhante à superioridade da produção mecânica em relação à manual (é evidente a influência da racionalidade taylorista), uma vez que era mais rápida, clara e efectiva, além, naturalmente, da continuidade, da impessoalidade e da imparcialidade com que o funcionário desempenha as suas funções. Como consequência eliminam-se os favoritismos, os actos discricionários, os compadrios ou pressões pessoais. Para tal, recorre-se ao "império da regra" (à semelhança do "império da lei", na teoria do estado (Freire, 1993, p. 76). A burocracia pode ser, segundo o seu criador, o meio mais eficiente para organizar os recursos humanos de forma a obter os fins desejados. Tudo isto constitui os seus méritos.

Estaríamos, pois, perante um modelo perfeito, "aplicável a todas as espécies de tarefas administrativas" (Worsley, 1977: 305), (empresas, organizações de beneficência, hospitais, partidos políticos, forças armadas, escolas, etc.). A perfeição, porém, não é um atributo humano. O modelo weberiano está, por conseguinte, também marcado com o selo da imperfeição humana: tem virtudes e defeitos, méritos e limites.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

In memoriam

Para o Alfonso

Eis-me perante as cinzas em que se tornaram
tuas dores teus dramas teus amores ancorados
no corpo em que moravas deliciado
nos sonhos que inventavas
como se o tempo te envolvesse no solfejo
da sua partitura
e lhe pertencesses sem reservas
e sem rasuras.

Eis-me, meu amigo, perante ti

Vejo-te no sorriso delicado dos abraços
em que nasciam as gargalhadas
em que nos ouvíamos nas conversas
em que nos fazíamos.

Vejo-te inteiro na memória do tempo
sem contornos como se o tempo
fosse apenas a condição de estar vivo
e cronos escapasse à subjugação mecânica
do relógio a que nos acorrentamos
nas minudências dos dias sombrios que nos afundam
esvaziados das promessas
que um dia nos fizemos entre murmúrios
de maresia inalados no sol poente.

Eis-me perante mim

Vejo-te no meu olhar
obscurecido na sombra da tua ausência
iluminado na luz da tua presença
e assim ficamos
abraçados na memória que nos ficou
do tempo eterno que nos sobrou.

É o que nos resta
por agora.

Ambos o sabemos

terça-feira, 19 de outubro de 2010

(In)comunicação burocrática na escola - Introdução

"Não há dúvida de que [na escola] os objectivos são confusos e é frequente a inexistência de acordo quanto à sua natureza entre o corpo docente, os pais e as autoridades" (MORRISH, I, 1981.pag.79).

A transposição do modelo burocrático weberiano, caracterizado por um elevado grau de racionalidade e cujo modelo é a racionalidade industrial, económica e técnica (Marcuse) para a escola enfrenta algumas dificuldades. Com efeito, se as próprias organizações empresariais, orientadas para a produção de bens materiais e de consumo, sentem dificuldades em racionalizar a sua actividade, i.é, em determinar, com rigor e segurança, quais os objectivos e os recursos e meios (humanos, técnicos e financeiros) necessários à sua consecução eficaz e eficiente, muito mais difícil se torna fazê-lo na administração escolar, dada a profusão de variáveis e de recursos de que depende (técnicos, financeiros e humanos, como as demais organizações, mas também, pais, professores, alunos e funcionários, autarquias, estado, etc.). De resto, a consideração da escola como organização, na linha das organizações empresariais, não só não é pacífica, como envolve aspectos que a indiciam como complexa, ambígua e polémica. Como veremos, sistémica e contingencial.

Neste sentido, tanto o meio socio-cultural, como o envolvimento e contexto espaço-temporal assumem na escola enquanto organização um papel em larga medida determinante, tanto para a sua estruturação quanto para a sua eficácia e eficiência (Gabarro, 1971 e Baldrige, 1975 in Gomes 1993: 32). Nestas circunstâncias, o recurso a outros modelos organizacionais é uma tentativa para salvaguardar a consecução dos objectivos, previamente definidos, através da mobilização inteligente dos recursos disponíveis. "Na perspectiva da consecução das metas e da sua racionalidade, escreve Costa Rico (1993, p.3), [as escolas] devem ser administradas, i.é, devem ser reguladas e ordenadas através de procedimentos de planificação, organização, direcção, coordenação e controlo tendentes a assegurar o seu óptimo funcionamento".

Poder-se-ia, eventualmente, considerar a escola como um fábrica em que as matérias primas seriam os alunos, os materiais didácticos e os livros os inputs, o processo de transformação estaria na comunicação/discussão entre professores e alunos, tanto individualmente como em grupo, as tarefas dos alunos, inter-acção informal entre eles, discussões, etc. e o produto final (output) tomaria a forma dos alunos educados e, de preferência, idênticos, uniformes e normalizados. Contudo, embora os estudos não abundem, temos a convicção de que a escola não se confunde com as organizações empresariais. Cremos mesmo que nem de uma "empresa educativa" se trata. Com efeito, distintos são os actores, nas suas motivações, objectivos e finalidades, nos seus saberes, funções e conflitos e, ainda, na sua organização grupal e comunicacional, distintos são os meios e os recursos, distintos são os objectivos, os resultados e os produtos. Além do mais, a complexidade organizacional é uma evidência na escola, como o é igualmente a mobilidade e a mudança da maior parte dos actores que nela actuam, sobretudo os professores e os alunos. A própria divisão entre pessoal docente, discente, administrativo e auxiliar aponta para uma complexidade e ambiguidade administrativas que não tem paralelo nas organizações empresariais, nem, por certo, nas militares e hospitalares, apesar das analogias que entre elas se possam estabelecer.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

1970 - 40 anos

Simon and Garfunkel Song for the asking

Há 40 anos foi a última canção do último álbum de originais de Simon and Garfunkel por um dos melhores compositores da pop music.

(In)comunicação burocrática na escola -Apresentação

Vêm aí tempos em que muito falará de burocracia. Tem sido sempre assim quando a ADD sai do turpor em que habitualmente se encontra.

O propósito do texto que agora começo a colocar aqui prende-se com a convicção segundo a qual a burocracia que caracteriza a organização da escola e da educação ser intrínseca e, livre-nos Deus, endémica ou, se preferirem, orgânica. É como se se tivesse instalado na estrutura orgânica (se de um organismo se tratar o que está longe de ser evidente) da organização escola e da educação e sem ela não pudesse já ser entendida ou considerada. Não deveria ser assim, deveríamos (ou deveremos?!) fazer com que assim não fosse. Claro. Todos estaremos de acordo. Contudo, voltamos à velha distinção kantiana entre “ser” e “dever ser”: o primeiro refere-se à realidade que nos é possível conhecer, à que empiricamente nos é dada; o segundo volta-se para o domínio ético, para o empenhamento livre e pessoal. O primeiro está marcado por uma certa passividade nossa, ou mais kantiano, uma “receptividade”, agora em relação ao “dever” não há passividade que nos possa valer: ou se é activo e, portanto, interventivo ou não há ética para ninguém. (Pois claro estão a pensar bem: nem toda a intervenção é eticamente louvável. Claro que também haverá quem esteja a pensar que mesmo não sendo louvável não deixa de ser uma ética. Bom, é melhor regressar a Kant…)

O texto que agora inicia a sua divulgação aqui já não é recente. Exponho-o sem alterações justamente porque, apesar de ter sido escrito para uma finalidade académica precisa há mais de uma década, me parecer ser interessante confrontá-lo com a actualidade e constatar quão distantes ou próximos estamos dele. Apresento-o em fragmentos (como os anteriores de resto) aproveitando a sua estrutura inicial. Para quem gosta de perspectivar a globalidade aqui vai:

Introdução
1. Burocracia na escola
1.1 Características principais das organizações burocráticas
1.2 Limites e disfunções da burocracia
1.3 E a escola?
2. A escola como sistema aberto e contingencial
Conclusão.

Sejam bem-vindos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Talvez poema

Viagem
Quando fecho os olhos
todas as janelas se abrem.