quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Talvez poema

Estranho entre estranhos
vagueio sem rumo pela cidade

Ninguém me conhece não conheço ninguém

E, contudo, algo me liga a esta gente que desliza
de rosto cerrado perseguindo a sombra
de um destino que lhe escapa.

Olho-me nesses rostos
nocturnos que descem as avenidas
e vejo-me sozinho
estranho entre estranhos
no meio da solidão
que desliza anónima até ao rio
e se afoga no mar
sem memória e sem remédio.

A guitarra que grita desafinada
no beco adormecido assalta-me o peito
indefeso e nele deposita a sombra
dos dias de cinza em que me vejo
estranho entre estranhos
vagueando pela cidade sem rumo e sem destino.

(Será apenas a mim que esta angústia
atormenta como a chuva miudinha
que me molha sem piedade debaixo do guarda-chuva?)

7 comentários:

JB disse...

É poema! :)
Nas tuas palavras, sinto que esse sentimento é um olhar que por vezes que nos invade. A sensação do estranho do desconhecido no meio de movimentos e luzes que nos confrontam e por vezes afrontam. Por isso, por vezes, sabe bem fechar os olhos, porque quando os abrirmos será um novo olhar, talvez (um novo)poema!

Beijinho

5hourstea.blogspot.com disse...

Lindo... gostei mesmo.

jad disse...

Obrigado, JB.

Mesmo com a demora no agradecimento é muito o gosto na tua apreciação e apreço.

O anonimato que veste os rostos urbanos de uma grande ou menos grande cidade protege-nos e isola-nos. É esta solidão que nos isola que também nos faz estranhos para nós e para os outros. A escrita é um remédio em que confiamos.

Abraço

jad disse...

Bem vinda(o?)5hourstea

Obrigado pelo comentário que aqui deixou neste cantinho que se destina à partilha com todos os amigos e visitantes de meia dúzia de coisas que ocupam e preocupam o modesto escrivão destas linhas.

Abraço

Em@ disse...

"(Será apenas a mim que esta angústia
atormenta como a chuva miudinha
que me molha sem piedade debaixo do guarda-chuva?)"
______________não, não é só a ti que atormenta! Hello, stranger!

(sobre o "Talvez", não figo nada!)

o abraço de sempre

Em@ disse...

era ---> digo <--- claro está! (fóooooooonix!)

Jorge Pimenta disse...

a mais dura das solidões é aquela que esventra perante sorrisos, olhares, passares (e jamais permaneceres) anónimos. é nessas ocasiões que sentimos a falência do projecto da criação: dentro e fora de cada um de nós.

p.s. fiquei profundamente comovido com a tua incursão lá no viagens de luz e sombra. de poeta para poeta: um forte e sentido abraço, caro amigo!