quarta-feira, 23 de junho de 2010

Talvez Poema

29.
De todos os nomes que habitaste
restam o mar
e a solidão

Ao mar
regresso sempre que o olhar
se me fecha
e teu sorriso transparece
nas longínquas vozes
da memória

Da solidão
fiz minha sombra.

5 comentários:

Jorge Pimenta disse...

cada vez que leio os teus "talvez poemas" mais seguro estou de que a poesia também se escreve com as letras do teu nome e os contornos da tua mão.
um abraço com o cheiro a maresia, jad!

jad disse...

Obrigado, Jorge.
Um dia referi aqui a razão do "Talvez".
Conto-te uma pequena história.
Há cerca de dois anos um amigo, poeta, criador, responsável e editor dos Cadernos do Tâmega, da Anto e, agora, da Saudade, editadas como sabes em Amarante, desafiou-me a mostrar-lhe alguns textos que havia escrito (toda a gente escreve, não é?!). Enviei-lhe quatro. Nesse momento nasceram os "Talvez Poemas": era demasiada presunção minha colocar-me ente poetas, editados por um poeta. É que, como escrevi num deles, "o poeta é filho do poema". E eu não era poeta...

Acho que sei o que é um poema, acho também, sem falsa modéstia, que escrevo alguma coisa interessante, que tenho recebido palavras muito simpáticas de quem lê o que escrevo mas... o passo ainda não está dado.

Por isso, aqui ando de escrita em escrita, de leitura em leitura em busca de um apaziguamento paradoxal: a melhor forma de dizer o silêncio onde essencialmente moramos.

Abraço. Grato pelas tuas palavras.

Andrea de Godoy Neto disse...

Jad, esse talvez poema é um poema e tanto, doído, uma saudade com gosto de maresia...

um abraço

Andrea de Godoy Neto disse...

"Por isso, aqui ando de escrita em escrita, de leitura em leitura em busca de um apaziguamento paradoxal: a melhor forma de dizer o silêncio onde essencialmente moramos."

E o dizes bem, Jad. Tão bem que me senti em casa.

outro abraço

jad disse...

Boa tarde, Andrea.

Obrigado pela simpatia do comentário.
Há, creio eu, uma permanente presença de Narciso no que fazemos: esperamos que que nos reconheçam no que fazemos e nos aplaudam. Nesse reconhecimento e aplauso nos miramos como narcisos admirando-se apaixonadamente. O problema não está, creio, no espelho, nem tão-pouco no desejo de nele nos admirarmos. O problema está na intensidade com que o fazemos. O problema está no facto de nos tornarmos reféns do espelho, reféns da nossa própria imagem. Nos tornarmos vítimas do nosso idolátrico desejo. E de nos consumirmos numa autofagia distraída e complacente.

É esta autofagia que procuro evitar mas busco sempre o melhor espelho para me ver. Como toda a gente, creio eu.

Obrigado pelo espelho, Andrea. Pela qualidade do espelho.

Abraço