quinta-feira, 17 de junho de 2010

Talvez Poema

28.
O banco ainda lá está as pontas dos cigarros já não.
Mantenho viva a memória dessa tarde deslumbrada em que a angústia e a timidez se sublimaram nas palavras imperfeitas que se soltavam opacas no fumo dos cigarros.

O abismo cercava-me o olhar e o dizer.
A coragem, tantas vezes adiada, irrompeu receosa e perfumou-se das flores do jardim.

As flores mantêm o aroma perfumado de alecrim e alfazema embrulhado em acácia e rosa brava. Eu aspiro-o sobretudo nos dias sombrios de chuva e temporal. Assim, a primavera chega mais cedo e o verão aquece-me ainda outra vez no banco do jardim onde te disse o meu amor sem o dizer.

Faz-me bem ouvir o balbuciar das folhas do carvalho que me acolhe nas tardes quentes do estio. Fecho os olhos e vejo teu contentamento no brilho silencioso do teu olhar. Guardo-o no cantinho onde estão os tesouros que a vida o sonho o amor me foram dando. Deles me sirvo nos dias em que as flores perdem as pétalas e o arco-íris.

E recomeço. Recomeço sempre.
Ao banco regresso sempre também. Sento-me, fixo o chão, fecho os olhos e vejo o brilho do teu olhar. E sei que o verão começou.

3 comentários:

Elenáro disse...

Sei que cá não tenho vindo mas o tempo, ou a falta dele, assim me obrigam a abdicar de vir a blogosfera.

Um excelente fim de semana e que venham mais posts.

Um abraço!

Jorge Pimenta disse...

a vida é feita de recomeços e de regressos. sair para saber regressar; recomeçar para saber terminar. melhor ainda é conjugar o recomeço com o regresso, sabendo que em ambos se guarda muito do que fomos.
um abraço!

jad disse...

Elenáro e Jorge.

Hoje apenas para agradecer a V. visita, o vosso comentário e pedir o V. perdão pela indelicada demora no agradecimento.

Abraço