quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Dizeres Anónimos com Autor

Inicia-se agora no Nós uma nova secção.
É uma secção constituída por citações de textos de tamanho variável,  sempre pequenos e nunca com o autor identificado. Sabemos bem no Nós que não há textos sem autor. Feliz ou infelizmente os textos não se escrevem a si mesmos. Têm um autor a quem devemos estar gratos pelo que pensaram, pelo que escreveram e no qual e pelo qual aprendemos a ler, a escrever, a pensar e, em larga medida, a ser. Então porquê não identificar o autor dos textos que serão usados nesta secção e apenas nesta secção? Por duas razões fundamentais:

1. Porque pensamos que, na linha dos hermeneutas e, sobretudo, Ricoeur, um texto deve valer por si mesmo, independentemente do seu autor.
Um texto vive da leitura que dele se faz. Melhor: um texto vive na leitura que o actualiza, que o torna actuante, que o faz activo, interventivo, capaz de dizer alguma coisa  a quem o lê no momento em que o lê. Independentemente do seu autor e do sentido que ele lhe quis atribuir. Deste modo, é ao leitor que compete valorizar o texto, que compete dizer o que o texto diz no momento em que o faz dizer. O interesse do texto está pois essencialmente na leitura.

É certo que apenas podemos ler o que está escrito. Mas é igualmente certo que um texto escrito apenas tem interesse quando o leitor lho reconhece e lho atribui na interpretação que dele faz, no momento em que a faz. Claro que todos sabemos que uma interpetação séria, rigorosa e justa apenas explicita o que já está no texto que interpreta. Não inventa, lê e interpreta na leitura contextualizada que faz. E assim faz do texto um ser que se alimenta dos leitores.

Deste modo, o sentido que se constrói na leitura resulta de um dinâmica triádica, que se desenvolve, por conseguinte, em três momentos:

1. Ler o que está no texto;
2. Ler o que não está no texto;
3. Construir o sentido na tensão entre o que está e não está no texto, entre o explícito e o implícito, entre o signo, a metáfora e o símbolo, entre a língua e a linguagem. Entre, enfim, o significado e a interpretação.

Em todo o caso, convém reafirmar o que se disse acima: o leitor não inventa, descobre! Des-cobre - mostra o que já existe mas está encoberto.

2. Apenas nesta secção se usarão textos sem identificação do autor porque no Nós abominamos o plágio. Portanto, todos os amigos que nos lerem nesta secção saberão à partida que todos os textos têm autor, estão identificados mas não é revelada a identificação. Sê-lo-à sempre que seja manifestado esse desejo.

Finalmente, sabemos também que a frase não é um texto. Mas também sabemos que há frases de tal modo profiquas, plurívocas ou polissémicas que vale a pena nelas mergulhar com a acutilância de que formos capazes. Por isso, as usaremos aqui.

2 comentários:

Elenáro disse...

Excelente opção, jad! Felicito-te!

Abraço!

jad disse...

Obrigado, Elenáro. Todos sabemos dos pré-conceitos que acompanham as leituras que fazemos do que lemos. O que eu pretendo com esta secção é trazer a atenção para o texto esvaziado do preconceito sobre o autor.

Abraço