Regresso à minha aldeia.
Bem sei da irreversibilidade do tempo
– esse algoz das noites brancas – mas
deixem-me saudar a primavera no canto do cuco
e os pés descalços na terra fumegante do primeiro arado;
deixem-me acordar as manhãs
no balido das ovelhas do Ti António
e correr vinhedos e pinhais
nas encostas barrentas do outeiro;
deixem-me cavalgar a ribeira
em correrias salpicadas de risos inocentes;
deixem-me mergulhar no regaço quente de minha mãe
e na doçura disfarçada do sorriso no olhar de meu pai;
deixem-me regressar a mim.
Prometo não me perder.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
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5 comentários:
o regresso ao ventre materno, ao éden primordial, às origens do ser é a etapa mais difícil de cumprir, nesta longa e (por vezes) penosa caminhada. conheces os sonetos de antónio nobre, com certeza. por instantes vi-te por lá...
um abraço, poeta-filósofo!
p.s. não há ser nenhum que se complete sem a viagem de regresso. é assim com todos os caminhantes.
ainda bem que fazes essa promessa, porque essa viagem tem mesmo que ser feita por alguns...
beijo, jad
Conheço também novelas, a casa do Seixo, a pousada e os "bolinhos de amor" ali para os lados de Casais Novos e Recesinhos.
Nobre é outro mundo. Tão longe e tão perto! Os grandes poetas fazem-nos sentir simultaneamente irmanados no seu destino humano e minúsculos na profundeza do seu dizer. É assim Nobre. É assim o Só. Eu fico-me pelo minúsculo.
Abraço
Alguns, Em@? Que modéstia! Tantos!
O regresso é a outra face da viagem. Nunca se regressa sem antes ter partido. Mas nem sempre se regressa ao mundo, donde se partiu, ao seio donde se nasceu. E é tão bom ali regressar de quando em vez!
Claro, claro, a irreversibilidade! "A viagem" da Sophia!
Mas faz tanto bem!
Abraço
eu disse alguns, porque muitos, demasiados, não gostam do incío dos seus inícios... só por isso. não teve nada de modéstia, mas sim realidade pura.
abraço
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