segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Talvez Poema

Regresso à minha aldeia.

Bem sei da irreversibilidade do tempo
– esse algoz das noites brancas – mas

deixem-me saudar a primavera no canto do cuco
e os pés descalços na terra fumegante do primeiro arado;

deixem-me acordar as manhãs
no balido das ovelhas do Ti António
e correr vinhedos e pinhais
nas encostas barrentas do outeiro;

deixem-me cavalgar a ribeira
em correrias salpicadas de risos inocentes;

deixem-me mergulhar no regaço quente de minha mãe
e na doçura disfarçada do sorriso no olhar de meu pai;

deixem-me regressar a mim.

Prometo não me perder.

5 comentários:

Jorge Pimenta disse...

o regresso ao ventre materno, ao éden primordial, às origens do ser é a etapa mais difícil de cumprir, nesta longa e (por vezes) penosa caminhada. conheces os sonetos de antónio nobre, com certeza. por instantes vi-te por lá...
um abraço, poeta-filósofo!
p.s. não há ser nenhum que se complete sem a viagem de regresso. é assim com todos os caminhantes.

Em@ disse...

ainda bem que fazes essa promessa, porque essa viagem tem mesmo que ser feita por alguns...
beijo, jad

jad disse...

Conheço também novelas, a casa do Seixo, a pousada e os "bolinhos de amor" ali para os lados de Casais Novos e Recesinhos.

Nobre é outro mundo. Tão longe e tão perto! Os grandes poetas fazem-nos sentir simultaneamente irmanados no seu destino humano e minúsculos na profundeza do seu dizer. É assim Nobre. É assim o Só. Eu fico-me pelo minúsculo.

Abraço

jad disse...

Alguns, Em@? Que modéstia! Tantos!

O regresso é a outra face da viagem. Nunca se regressa sem antes ter partido. Mas nem sempre se regressa ao mundo, donde se partiu, ao seio donde se nasceu. E é tão bom ali regressar de quando em vez!
Claro, claro, a irreversibilidade! "A viagem" da Sophia!
Mas faz tanto bem!
Abraço

Em@ disse...

eu disse alguns, porque muitos, demasiados, não gostam do incío dos seus inícios... só por isso. não teve nada de modéstia, mas sim realidade pura.
abraço