terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Poema

Solidão

A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludidos e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira

4 comentários:

Em@ disse...

É, vai com os rios...mas chegará ao mar? Nem sempre, não é?Vai-se, por vezes alimentando das margens, do orvalho que fica por ali.Há pessoas que, por mais que tentem, não se conseguem ver livres da solidão. Daquela que habita dentro de nós.Karma? Traço de personalidade?
Abraço,jad.

jad disse...

Com razão, Em@, há pessoas que se sentem profundamente sós, profundamente abandonadas. É a solidão vestida de negro, corrosiva e traiçoeira.

Mas há a solidão vestida do branco do arco-íris. É a solidão que se alimenta do silêncio onde verdadeirmente nos fazemos. Essa devemos proteger e salvaguardar. Essa devemos habitar com as sombras que nos acompanham os passos.

Obrigado, Em@ é sempre um gosto ver-te por cá.

Em@ disse...

Sei.
Essa é a solidão que alimenta a minha criatividade.Uma solidão preenchida,não solitária porque vivo rodeada de gente com quem partilho ( eque partilham comigo) tudo o que pode ser partilhado.

Abraço

jad disse...

A tua e de todos os que vão para além da simples constatação do que vai acontecendo no fluir quotidiano dos dias, onde tudo parece claro e transparente. Neste parecer se esgota o sentido e a sua busca. Depois... bom, depois é o desencanto perante a complexidade para a qual não sé estava preparado. E a frustração também.

Abraço.