A Minha Escola é uma construção humana. É, pois, portadora das virtudes e dos limites dos homens que a foram fazendo à medida da sua historicidade. É, por isso, imperfeita na sua organização, limitada nos saberes que mobiliza, inacabada na sua construção. É, também por isso, uma organização dinâmica que se constrói no espaço e no tempo da historicidade dos sujeitos que a fazem. Neste sentido, a Minha Escola constrói-se entre a memória e a utopia. É um projecto.
A escola como projecto é herdeira de modos de ser, pensar, dizer e fazer que nos identificam como homens, como cultura, como civilização. Aqui e agora. Noutro tempo, noutro lugar outros seriam os saberes e os valores sobre os quais se construiria e lhe dariam razão de ser. Noutro tempo, noutro lugar outra seria a sua organização e sentido. Noutro tempo, noutro lugar outros seriam os sujeitos que a fariam, a dinamizariam e a destinariam. Outros seriam a sua finalidade. Neste sentido, centrada na historicidade dos sujeitos que a fazem, mobilizadora de modos de ser, pensar, dizer e fazer identitários do tempo e espaço que habitamos, a escola como projecto projecta-se no futuro, projecta o futuro na convicção de que apenas o presente, herdeiro de todos os presentes que se fizeram passado, o fará. É uma utopia.
A escola como utopia alimenta-se dos sonhos dos sujeitos que a fazem. Sujeitos que pensam, que estudam, que sabem, que ensinam; sujeitos que pensam, que estudam, que não sabem, que aprendem; sujeitos que pensam, que estudam, que falam, que dizem. Que comunicam. E, porque comunicam, põem em comum modos diferentes de ser, pensar, dizer e fazer e na diferença se reconhecem uns aos outros. Uns nos outros. E na diferença buscam pontes. Pontes que buscam a partilha da diferença. Sem a eliminar, sem a dominar, sem a absorver. Na convicção de que apenas a diferença nos faz idênticos, que somos o que somos no absoluto respeito pelo que não sou eu, que apenas somos porque não somos iguais, porque nos fazemos diferentes no que sabemos, no que pensamos, no que dizemos, no que fazemos, nos valores com que nos fazemos.
A Minha Escola constrói-se com valores. Diferentes mas nunca inócuos. Como uma casa a Minha Escola constrói-se com quatro paredes essenciais: a liberdade, a solidariedade, a tolerância e o respeito. Há outras paredes, umas melhores, outras piores, mas estas são as fundantes da Minha Escola. Aqui habita o saber e o dever. O saber da ciência, da filosofia, da poesia, da música, da literatura, da arte. Aqui habitam os valores éticos, estéticos, religiosos. Diferentes. Essenciais.
Finalmente, a Minha Escola destina-se a quem não sabe e quer aprender mas centra-se em quem sabe e quer ensinar. Há, pois, na Minha Escola a premência do dever, o imperativo ético que obriga quem sabe a ensinar, que obriga quem não sabe a aprender. O imperativo ético do absoluto respeito pelo outro pelas razões da sua diferença. O imperativo ético do dever de recurso aos melhores meios para que quem sabe ensine e quem não sabe aprenda. Meios, métodos, caminhos. Meios humanos, físicos, económicos, políticos; métodos científicos, pedagógicos, didácticos; caminhos comunicacionais, linguísticos, audiovisuais.
A Minha Escola é um projecto em construção na diferença de modos de ser, pensar, dizer e fazer de homens e mulheres com os ouvidos no passado, os passos no presente e o olhar no futuro.
Esta é a primeira pedra. Seguir-se-ão outras com a ajuda, colaboração e mestria de todos os que, de uma forma ou de outra, contribuem e contribuíram para a construção da Minha Escola. Bem-vindos.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Texto bonito jad. :) Gostei.
"Como uma casa a Minha Escola constrói-se com quatro paredes essenciais: a liberdade, a solidariedade, a tolerância e o respeito."
Aqui está o problema central do porquê da educação em Portugal estar no caos que está. De todos os lados estas 4 paredes são ignoradas.
Uns confundem liberdade com libertinagem. Outros trocam a solidariedade pela inveja e egocentrismo/egoísmo. E de toda a parte há desrespeito e completa falta de tolerância.
O problema é que para resolver estes problemas na escola há que resolve-los na sociedade. Ou será ao contrário? Poderá ser a história do ovo e da galinha.
Uma coisa é certa, por algum lado tem que se começar a inverter esta situação.
Pois é, Elenáro. tens razão.
Como comentei num post no teu "Desvarios de um louco" muitas vezes esquecemos que os pais já foram filhos e que os seus filhos hão-de ser pais e que não nasceram crescidos.
O desafio que se nos coloca, como professores e ducadores, é, do meu ponto de vista, tentar conseguir fazer com os filhos actuais o que manifestamente não conseguimos fazer com os filhos que agora são pais. Se conseguirmos reforçar este propósito com a educação dos pais tanto melhor. Mas o que nos compete é educar as crianças e jovens, que são filhos dos pais e alunos dos professores.
Obrigado, Elenáro. Boa noite. Abraço.
Vamos, JAD, a essa escola! Mesmo que seja utopia. Não vale a pena perder muito tempo com a que existe, vale a pena dar tudo pela que não existe. E se não vier a existir, como diria Sócrates, o que importa é que o filósofo se paute pelas sua normas (...).
Eu, por mim, não quero morrer conformado.
Enviar um comentário