quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Talvez Poema

Olho-me no teu olhar e maldigo
aqueles que te roubaram o sorriso
na dor dos que te morreram
sem causa e sem sentido

Olho-te e maldigo aqueles
que te incendiaram a alma
com o grito desmedido
das bombas de fome e de sangue
no horror sem nome dos que te mataram
sem razão e sem destino.

Olho-me na tua dor
e morrem-me os dias claros
perfumados de bela-luz e rosmaninho
entre giestas e carvalhos
em que inventávamos sonhos
nas margens encantadas da minha aldeia.

O que te fizemos, menina de Bagdad,
nas mil e uma noites feridas de morte e desencanto?

De que te vestimos, menino da minha aldeia,
esvaziado sem pudor de sonhos e fantasias sem par?

2 comentários:

JB disse...

olá jad,
Intenso sentir neste poema! Uma delícia profundamente retratada nas palavras que nos tocam e nos fazem (re)pensar.
Que caminhos percorremos e a que passo largo por vezes o fazemos...

Gostei, como sempre gosto destes "Talvez poema".

Beijinho

jad disse...

Obrigado, JB.

É verdade, "Que caminhos percorremos e a que passo largo por vezes o fazemos..." e nos perdemos nos trilhos obscuros das escolhas justificadas no espelho da indiferença ou da distracção, igualmente mau.

Resta-nos o olhar sem mácula da criança que habita a reserva de humanidade que nos justifica.

Abraço, JB, é muitíssimo bom ter-te aqui.