25. O tempo da cereja
Nasceram-me arco-íris no olhar
o mundo enfeitou-se de borboletas
deliciado com a transparente leveza
do sorriso com que me recebeste
entre alfazema e alecrim
com que perfumas o canto encantado
do chapim no carvalho do teu jardim.
Era o tempo da cereja
Os corpos douravam-se no trigo
e amavam-se desesperados no luar
com que vestíamos
o silêncio de sonhos
que só os grilos ouviam
e confirmavam no coro
desenfreado do seu grigriar.
E nós víamo-nos inteiros
nas palavras que nos dizíamos
no olhar que habitávamos
e éramos felizes
sem mágoa e sem mácula
nas promessas que nos fazíamos
No tempo da cereja.
domingo, 30 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
1970 - 40 anos
Há 40 anos foi o fim do grupo mais influente na música pop,
I me mine o tema de Harrison no álbum derradeiro.
I me mine o tema de Harrison no álbum derradeiro.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Talvez Poema
24.
De todas as vozes
talvez sejam os poetas
quem melhor diz
o sonho que nos faz
Talvez os profetas sejam poetas também
talvez os filósofos os invejem
e no fundo da eternidade do pensar
busquem a palavra que só os poetas dizem
Talvez o silêncio
que a voz do poeta habita
seja na imatura contingência
da palavra
o destino incerto
do sentido
em que os alquimistas do espírito
mergulham encantados
e afogam-se distraídos
nas cores
do arco-íris
com que inventam
o amor.
Talvez.
(E não nos livramos da herança da esfinge)
De todas as vozes
talvez sejam os poetas
quem melhor diz
o sonho que nos faz
Talvez os profetas sejam poetas também
talvez os filósofos os invejem
e no fundo da eternidade do pensar
busquem a palavra que só os poetas dizem
Talvez o silêncio
que a voz do poeta habita
seja na imatura contingência
da palavra
o destino incerto
do sentido
em que os alquimistas do espírito
mergulham encantados
e afogam-se distraídos
nas cores
do arco-íris
com que inventam
o amor.
Talvez.
(E não nos livramos da herança da esfinge)
terça-feira, 11 de maio de 2010
Justiça chegou tarde mas...chegou
Eis os provérbios em conflito:
"Quem espera desespera" ou "Quem espera sempre alcança"?
Eis a notícia:
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a condenação do pai de uma aluna da Escola Secundária Anselmo de Andrade, em Almada, a pagar uma indemnização de 10 mil euros a uma professora, por injúrias.
Os factos remontam a 7 de março de 2001, quando, numa reunião naquela escola, o encarregado de educação apelidou a professora de História da Arte e Oficina de Artes de "mentirosa", "bandalho", "aberração para o ensino" e "incompetente".
A reunião fora solicitada pelo encarregado de educação, alegadamente para obter esclarecimentos acerca das muitas faltas da professora. Num trimestre, a docente faltara onze vezes por ter fraturado uma perna.
Além daqueles insultos, o pai acusou ainda a professora de falta de profissionalismo, de "mandar bocas" à filha, de terminar as aulas "10 minutos antes do toque e pedir aos alunos para dizerem aos funcionários que estavam a sair de um teste" e de na véspera dos testes dizer aos alunos "ipsis verbis" a matéria que iria sair.
Aconselhou ainda a professora a procurar tratamento psiquiátrico "urgente".
A professora, com 20 anos de profissão, pôs uma queixa-crime em tribunal, acabando o encarregado de educação por ser condenado pelo crime de injúria agravada.
A docente avançou também com uma ação cível, pedindo uma indemnização de quase 19 mil euros por danos patrimoniais e de 15 mil por danos não patrimoniais.
O tribunal decidiu fixar a indemnização em 10 mil euros, mas o arguido recorreu, alegando que as expressões foram proferidas por "um pai preocupado e protetor", num contexto de "nervosismo e tensão".
Alegou ainda que "não era previsível que as suas palavras desencadeassem um processo contínuo de sofrimento, stress e tristeza além do sentimento de desvalorização pessoal e da dignidade e reputação" da professora.
Defendeu igualmente que as consequências das suas palavras para a professora "devem mais ser consideradas como incómodos ou contrariedades do que verdadeiros danos".
Mas o tribunal manteve a condenação ao pagamento de 10 mil euros, considerando que a professora, face às "graves ofensas" de que foi alvo, ficou afetada na sua dignidade e reputação, o que lhe veio a causar um "rol de enfermidades", dele resultando "um quadro clínico de acidente vascular cerebral, acompanhado de síndrome depressivo grave, com oclusão da vista esquerda, com risco de cegueira".
O STJ considera mesmo que a indemnização de 10 mil euros "é um nada", já que "a dor de alma é, sem receios de exageros, incomensurável".
***Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico***
Daqui
"Quem espera desespera" ou "Quem espera sempre alcança"?
Eis a notícia:
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a condenação do pai de uma aluna da Escola Secundária Anselmo de Andrade, em Almada, a pagar uma indemnização de 10 mil euros a uma professora, por injúrias.
Os factos remontam a 7 de março de 2001, quando, numa reunião naquela escola, o encarregado de educação apelidou a professora de História da Arte e Oficina de Artes de "mentirosa", "bandalho", "aberração para o ensino" e "incompetente".
A reunião fora solicitada pelo encarregado de educação, alegadamente para obter esclarecimentos acerca das muitas faltas da professora. Num trimestre, a docente faltara onze vezes por ter fraturado uma perna.
Além daqueles insultos, o pai acusou ainda a professora de falta de profissionalismo, de "mandar bocas" à filha, de terminar as aulas "10 minutos antes do toque e pedir aos alunos para dizerem aos funcionários que estavam a sair de um teste" e de na véspera dos testes dizer aos alunos "ipsis verbis" a matéria que iria sair.
Aconselhou ainda a professora a procurar tratamento psiquiátrico "urgente".
A professora, com 20 anos de profissão, pôs uma queixa-crime em tribunal, acabando o encarregado de educação por ser condenado pelo crime de injúria agravada.
A docente avançou também com uma ação cível, pedindo uma indemnização de quase 19 mil euros por danos patrimoniais e de 15 mil por danos não patrimoniais.
O tribunal decidiu fixar a indemnização em 10 mil euros, mas o arguido recorreu, alegando que as expressões foram proferidas por "um pai preocupado e protetor", num contexto de "nervosismo e tensão".
Alegou ainda que "não era previsível que as suas palavras desencadeassem um processo contínuo de sofrimento, stress e tristeza além do sentimento de desvalorização pessoal e da dignidade e reputação" da professora.
Defendeu igualmente que as consequências das suas palavras para a professora "devem mais ser consideradas como incómodos ou contrariedades do que verdadeiros danos".
Mas o tribunal manteve a condenação ao pagamento de 10 mil euros, considerando que a professora, face às "graves ofensas" de que foi alvo, ficou afetada na sua dignidade e reputação, o que lhe veio a causar um "rol de enfermidades", dele resultando "um quadro clínico de acidente vascular cerebral, acompanhado de síndrome depressivo grave, com oclusão da vista esquerda, com risco de cegueira".
O STJ considera mesmo que a indemnização de 10 mil euros "é um nada", já que "a dor de alma é, sem receios de exageros, incomensurável".
***Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico***
Daqui
sábado, 8 de maio de 2010
Bom dia com Aniversário
Aniversário de Eugène-Henri-Paul Gauguin (Paris, 7 /6/ 1848 - Ilhas Marquesas, 8/5/1903)
Bom dia com Vincent (Van Gogh) e Starry, starry night (Don Maclean)
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Poema
O Homem que Contempla
Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.
E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.
Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.
Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.
Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior.
Rainer Maria Rilke
O Livro das Imagens
Tradução de Maria João Costa Pereira
daqui
Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.
E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.
Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.
Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.
Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior.
Rainer Maria Rilke
O Livro das Imagens
Tradução de Maria João Costa Pereira
daqui
terça-feira, 4 de maio de 2010
Talvez Poema
23
Nascimento
Nascemos da memória ancestral
do mundo
habitação encantada
da história
que nos ata
à sombra
com que perseguimos
nossos passos
Nascimento
Nascemos da memória ancestral
do mundo
habitação encantada
da história
que nos ata
à sombra
com que perseguimos
nossos passos
Regresso
Boa noite a todos.
Estou de regresso ao convívio dos viajantes pelas palavras e pelas imagens que circulam pela blogosfera e, com referência especial, mandam os princípios elementares da deferência, a todos os que se sentiram admirados, intrigados, defraudados, os que se interrogaram, se importunaram, se preocuparam com o destino do Nós e do seu desaparecido escrivão.
Pois bem, por razões que se prendem com os frágeis cordéis que nos prendem à vida e ao seu lado são e também, temos de admiti-lo, por incapacidade de conciliar afazeres inadiáveis com a escrita de que se alimenta o Nós obriguei-me a esta ausência indesejada e difícil.
Portanto, caríssimos amigos e visitantes, bem-vindos ao convívio de quem vos espera sempre e agradece a vossa visita e, sobretudo, a disputa e o comentário.
Bem-vindos.
Estou de regresso ao convívio dos viajantes pelas palavras e pelas imagens que circulam pela blogosfera e, com referência especial, mandam os princípios elementares da deferência, a todos os que se sentiram admirados, intrigados, defraudados, os que se interrogaram, se importunaram, se preocuparam com o destino do Nós e do seu desaparecido escrivão.
Pois bem, por razões que se prendem com os frágeis cordéis que nos prendem à vida e ao seu lado são e também, temos de admiti-lo, por incapacidade de conciliar afazeres inadiáveis com a escrita de que se alimenta o Nós obriguei-me a esta ausência indesejada e difícil.
Portanto, caríssimos amigos e visitantes, bem-vindos ao convívio de quem vos espera sempre e agradece a vossa visita e, sobretudo, a disputa e o comentário.
Bem-vindos.
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