sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Excelentíssimo(s) ano(s)

Para os meus amigos e para todos os que, de uma forma ou de outra,  habitam os caminhos que vamos percorrendo ano após ano.
Que o sonho se cumpra!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

1970 - 40 anos

Há 40 anos Michel Foucault dava a sua Leçon inaugurale au Collège de France com o título L’Ordre du discours. 
Eis um pequeno excerto de homenagem antes que o ano termine dado que não é o momento de exprimir o reconhecimento da importância do seu filosofar para a formação do pensar de muitos de nós que tacteávamos entre perplexidades e equívocos, entre rebeldias e revoluções, entre a razão, o inconsciente e muitas outras aventuras.

“[…] A educação pode muito bem ser, de direito, o instrumento graças ao qual todo o indivíduo, numa sociedade como a nossa, pode ter acesso a qualquer tipo de discurso ; sabemos no entanto que, na sua distribuição, naquilo que permite e naquilo que impede, ela segue as linhas que são marcadas pelas distâncias, pelas oposições e pelas lutas sociais. Todo o sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que estes trazem consigo.
Eu sei perfeitamente que a separação que tenho vindo a fazer entre rituais da fala, sociedades de discurso, grupos doutrinários e apropriações sociais, é demasiado abstracta.
Na maior parte das vezes estão ligados uns aos outros e são como grandes edifícios que asseguram a distribuição dos sujeitos falantes nos diferentes tipos de discurso e asseguram a apropriação dos discursos a certas categorias de sujeitos. Numa palavra, são os grandes procedimentos de sujeição do discurso. O que é, no fim de contas, um sistema de ensino senão uma ritualização da fala, senão uma qualificação e uma fixação dos papéis dos sujeitos falantes; senão a constituição de um grupo doutrinal, por difuso que seja; senão uma distribuição e uma apropriação do discurso com os seus poderes e os seus saberes? O que é a "escrita" (a dos "escritores") senão um sistema de sujeição semelhante, que assume talvez formas um pouco diferentes, mas em que as grandes decomposições são análogas? Será que o sistema jurídico, o sistema institucional da medicina, também eles, pelo menos em alguns dos seus aspectos, não são sistemas semelhantes de sujeição do discurso?"

domingo, 26 de dezembro de 2010

Para os meus amigos

Era o seu primeiro Natal . Escrevi para ela o pequeno texto que agora dedico também a todos os meus amigos que não desistiram de ser crianças. Feliz Natal!

Um dia, quando eu já for velhinho e a alvura me vestir o rosto, hás-de ler esta carta. Regressarás, então, à festa do teu primeiro Natal, aquele em que, pela primeira vez, foste recebida no calor do afecto daqueles que te amam e, em ti, regressaram eles também ao seu primeiro Natal, aquele em que, pela primeira vez, foram recebidos no calor do afecto daqueles que os amavam. Recordarás, então, a lareira, as filhós, os doces, os aromas, os sabores, os manjares, o presépio, a festa, o encontro. E abrirás os olhos ao sorriso que te há-de inundar a alma na memória que da festa e do encontro se há-de fazer. E sorrirás também quando o silêncio te encaminhar para o mais profundo e íntimo encontro de que és capaz: tu própria. Tu e as memórias que te habitam. Tu e os sonhos que te fazem. Descobrirás o arco-íris e com ele iluminarás as pontes que hás-de construir sobre os rios que hás-de atravessar. Nele viajarás até às estrelas e nelas hás-de morar com o sonho que te habitar. Descobrirás, então, que a estrela és tu e apenas em ti, no mais fundo, puro e íntimo silêncio de ti encontrarás tudo o resto: tudo o que pensaste e hás-de pensar, tudo o que fizeste e hás-de fazer, tudo o que disseste e hás-de dizer, tudo o que foste e hás-de ser. Viajarás, então, pura e leve, nas asas do tempo, tecidas de luz. E gostarás! Gostarás da infinita vertigem do voo íntimo e claro que te há-de revelar. E desejarás nunca quebrar o encanto que te ilumina o olhar, nunca deixar de voar em ti para além de ti. Descobrirás que a viagem se faz no silêncio íntimo do encontro com o sonho que nos habita, que toda a viagem se faz no regresso aos rostos que nos habitam o silêncio. Descobrirás o sol e a lua, a luz e a sombra. A tua sombra. Com ela viajarás sempre. Hás-de amá-la como amarás o rosto inquieto do amor que te há-de invadir. Com ela habitarás o silêncio e a memória, com ele vestirás os dias de arco-íris. E gostarás. E sorrirás aos rostos que te habitam o silêncio e neles te encontrarás. Neles descobrirás o outro e os valores que fazem da diferença a razão de ser homem e mulher: a liberdade, a solidariedade, a tolerância, o respeito. E serás feliz!

Um dia, quando eu já for velhinho e a alvura me vestir o rosto, há-de haver a festa do primeiro Natal, aquele em que, pela primeira vez, o teu sonho será recebido no calor do afecto dos que o amam. E nós, que te amamos e contigo regressámos ao primeiro Natal, aquele em que, pela primeira vez, fomos recebidos no calor do afecto dos que nos amavam, sorriremos encantados. Felizes. Como tu.

Feliz Natal

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Aos amigos

Que a amizade
seja a força que anima
o tempo incerto
que habita os dias
em que inventamos o sonho
que nos faz humanos.

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Feliz Natal para  os amigos
e para todos os que por este cantinho
vão passando sem deixar sua pegada

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Para a mãe

Quando o dia da mãe ainda não estava sujeito ao calendário das compras comemorava-se no dia em que o calendário católico festeja a "Imaculada Concepção" - 8 de Dezembro.
Também comemoro a nova data mas em 8 de Dezembro aqueço a alma no regaço da memória de minha mãe. Não é pouco!

1.
A mãe olha-nos sem cansaço,
envolve-nos na ternura do abraço
do seu olhar
e em cada abraço seu
adormecemos
outra vez no ninho do regaço
de que nascemos.

Mais do que a vida de que nascemos
a mãe olha-nos
e em cada olhar seu nascemos
outra vez
porque no olhar da mãe
nasce e renasce o amor
que nos fez.

2. 
A mãe recebe o filho do berço
envolve-o no peito
e fala-lhe em silêncio
enquanto lhe beija a testa
e acaricia a cabecita loura
nos seus cabelos ralos
com o sorriso do seu olhar.

O seu menino agradece-lhe
no sorriso encantado
que faz a mãe sentir-se mãe
e o pai – que os olha embevecido –
sentir-se pai
(já que não pode ser mãe).